Motorista de Loures revive ataque: “Apontou-me a arma à cabeça e disse: tu não sais!”
O motorista de autocarros que ficou gravemente queimado em Santo António dos Cavaleiros, em Loures, não tem dúvidas de que foi alvo de uma tentativa de homicídio.
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Tiago, 41 anos, diz que quando fecha os olhos ainda vive o ataque. “Revivo eles a mandarem literalmente os molotov para cima de mim e o fogo e a aflição”, contou numa entrevista transmitida esta quarta-feira pela TVI.
Ainda hoje, Tiago não sabe responder porquê. Porquê ele e por que é que na madrugada de 24 de outubro não o deixaram sair do autocarro. Questionado pela jornalista, Tiago arrisca uma resposta: “é por ser branco? Porque os meus outros colegas do Bairro do Zambujal foram convidados a sair do autocarro. Eram de cor. Eu era branco”.
Tiago está convicto de que se tratou de uma tentativa de homicídio. “Eu pedi para me deixarem sair. Eles não me deixaram”. O motorista tentou fechar as portas, mas um dos atacantes entrou pela porta do meio. “Aponta a arma à cabeça e diz: tu não sais!”. Tiago ficou no seu lugar. Um alvo fácil.
“Entretanto começam a mandar cocktails tanto de fora para o vidro do autocarro, como da porta da entrada para o meu lugar, para cima de mim. Sinto logo que fica um cheiro de combustível em cima de mim e foi só um indivíduo fazer faísca no isqueiro. Conforme dá faísca eu começo a pegar fogo”, recordou com a voz embargada.
Tiago ficou com marcas para vida. Físicas e psicológicas. O motorista da Rodoviária de Lisboa diz que a prisão dos suspeitos foi “um alívio”, mas as feridas poderão nunca sarar. “Estou à base de comprimidos para dormir porque cada vez que fecho os olhos, se não tiver os comprimidos, vejo o acidente. E vivo o acidente… sempre”. Por isso diz que não é capaz de perdoar. “Não”, garante.
Na madrugada de 24 de outubro, Tiago sofreu queimaduras graves na face, tórax e membros superiores, após o autocarro, que seguia sem passageiros, ter sido vandalizado, durante tumultos ocorridos na periferia de Lisboa na sequência da morte de Odair Moniz, baleado por um agente da PSP, no Bairro da Cova da Moura, Amadora.