MP promete provar que Salgado "recrutou funcionários a soldo" e usou clientes do BES
O Ministério Público (MP) prometeu, no arranque do julgamento da queda do BES/GES, provar que o ex-banqueiro Ricardo Salgado "recrutou a soldo um conjunto de funcionários" que colocou em "locais-chave" para "desígnios criminosos" que permitiram mascarar a real situação do grupo e financiar sociedades deficitárias.
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Entre outras imputações, o antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES) está acusado de ter corrompido quadros do BES/GES, também arguidos, com, lembrou esta terça-feira a procuradora Carla Dias, "promessas de pagamento de vantagens em dinheiro, para que violassem os deveres profissionais".
"Todos desempenharam um papel determinante para a realidade pretendida", sublinhou, nas exposições introdutórias do julgamento, uma das três magistradas do Ministério Público presentes no julgamento, insistindo que Ricardo Salgado assumiu, a partir de determinada altura, "de forma autocrática" o governo do GES, ao qual associou a prestigiada marca BES".
O objetivo final seria financiar sociedades para as quais o antigo presidente do BES, atualmente com 80 anos e doente de Alzheimer, "tinha desviado investimentos desastrosos" recorrendo ao "património de terceiros". "O GES apresentou-se assim publicamente imune a sucessivas crises financeiras", tendo usado "as suas entidades bancárias e os seus clientes como fonte incessante de liquidez", precisou Carla Dias.
Requerida perícia às vítimas
Só no atual processo estão constituídas quase 1700 vítimas, um estatuto até aqui inédito para lesados bancários. A larga maioria é representada pelo advogado Nuno Silva Vieira, que, nas suas exposições introdutórias anunciou que requereu a realização de uma perícia às vítimas para "medir o impacto emocional e psicológico" da perda, em "muitos" casos, dos "frutos de toda uma vida de trabalho".
O julgamento, iniciado uma década depois do colapso do BES/GES, prossegue a partir das 14.30 horas, com as exposições introdutórias dos mandatários de mais assistentes (ofendidos que coadjuvam o Ministério Público) e dos arguidos. No total, sentam-se no banco dos réus 15 pessoas e três entidades coletivas. Respondem por dezenas de crimes, incluindo associação criminosa, corrupção no setor privado, manipulação de mercado e falsificação de documento, entre outros.
A larga maioria, incluindo Ricardo Salgado, pediu esta terça-feira para ser dispensado de estar presente no julgamento, o que foi já aceite pelo Tribunal Criminal de Lisboa.