“O que tenho a dizer é que não os matei. Tenho a consciência tranquila”, disse, esta terça-feira, ao coletivo de juízes do Tribunal de Beja, Mónica Lourenço, a mulher de 38 anos, que, conjuntamente com o seu companheiro, Fernando Belmonte, de 54 anos, responde por homicídio e roubo. O arguido remeteu-se ao silêncio.
Corpo do artigo
A mulher começou por referir, em tom muito alterado, que discordava "de tudo o que está aí escrito [referindo-se ao despacho de acusação]. É tenebroso. Não me foi possível discordar quando fui ouvida no interrogatório”. Em resposta, foi repreendida pela juíza que preside ao julgamento: “Nos anos que levo de julgar homicídios, e são muitos, nunca ninguém matou ninguém”.
Na declaração ao tribunal, Mónica imputou toda a responsabilidade dos homicídios e do roubo, da viatura e cartões das vítimas, ao companheiro, tendo-o acusado de a ter agredido “poucos dias antes dos crimes", tendo posteriormente pedido desculpa. “Nunca ouvi ninguém gritar por socorro, nem vi absolutamente nada. O Fernando primeiro ficou sozinho em casa com a mulher e depois mandou-me chamar o homem. Passados alguns minutos, disse que tínhamos que abalar do local e não deu qualquer explicação”, depoimento que não convenceu os magistrados. A mulher contou que levaram somente um saco com os seus pertences. onde “o Fernando meteu um objeto", mas que ela não terá visto o que era.
Quanto à responsabilidade sobre o roubo do carro e dos cartões das vítimas, Mónica disse que que nunca mais tinha voltado à quinta. "Foi o Fernando que lá foi e trouxe o carro e os cartões. Não tenho nada a ver que isso”, explicando que tal aconteceu porque o casal “tinha uma dívida" pelos quatro dias que tinha trabalhado na quinta. "O Fernando matou-se lá a trabalhar”, afirmou, numa expressão que um dos juízes disse não ser muito feliz para um casal que está a ser julgado.
Fernando e Mónica estão acusados de terem matado, no dia 16 de abril de 2023, o casal alemão Jan Otton, de 79 anos, e Ilse Ediltraud, de 71 anos, que os acolhera na Quinta do Paraíso Janedi, em Baleizão, concelho de Beja, Os corpos do casal de septuagenários só foram descobertos a 10 de maio desse ano, após um alerta do filho das vítimas, que não conseguia contactar os pais.
A GNR foi ao local e como os moradores não deram sinal de vida informaram o 112, que acionou os bombeiros “para uma abertura de porta”, descobrindo os corpos em avançado estado de decomposição no interior da habitação.
Os arguidos foram detidos no dia 12 de maio de 2023, em Aljustrel, por inspetores da Diretoria do Sul da Polícia Judiciária, tendo no dia seguinte sido presentes a primeiro interrogatório, a um Juiz de Instrução Criminal do Tribunal de Beja, que lhes aplicou a prisão preventiva.