Homem, de 79 anos, quis iludir autoridades alegando que Beatriz morreu numa queda, mas foi traído pelo resultado de autópsia.
Corpo do artigo
Casados há muitos anos, nunca tiveram uma discussão que merecesse o reparo de familiares, amigos ou vizinhos. Mas, no último sábado, na residência do casal, em Vila Nova de Gaia, uma desavença motivada pelo atraso do marido em sentar-se à mesa para jantar, acabou na morte da mulher, de 78 anos. Tentando escapar à responsabilidade, o homem alegou que Beatriz tinha caído nas escadas. A autópsia revelou outra realidade. O homem, de 79 anos, tinha asfixiado a mulher. Foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) do Porto e ontem colocado em prisão preventiva, depois de ter confessado.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o suspeito, de apelido Teixeira, estava no primeiro andar da casa, situada na Rua do Professor Amadeu Santos, uma movimentada artéria de Valadares, em Gaia. Era hora do jantar. Beatriz, que sempre foi doméstica, tinha acabado de confecionar a refeição e chamou pelo marido para jantar.
Após vários atrasos e porque o homem nunca mais descia para jantar, a mulher terá começado a gritar pelo marido e subiu a escadaria para ver o que ele andava a fazer. O homem terá entrado num estado de fúria e ambos começaram a discutir. Ao contrário do respeito que sempre teve durante os mais de 50 anos de casamento, agrediu a mulher e começou a apertar-lhe o pescoço, num aparente ataque de raiva. A vítima desfaleceu.
O homem alega que Beatriz retomou os sentidos e que a ajudou mesmo a descer as escadas até ao rés-do-chão, acrescentando que, naquele instante, ela caiu. Certo é que o suspeito ligou para o número de emergência 112 para ativar uma equipa de socorro.
A vítima ainda estaria com vida quando os bombeiros de Valadares chegaram à habitação e procederam às primeiras manobras para salvar a vítima. Um dos dois filhos do casal já tinha sido alertado, assim como alguns vizinhos próximos. Como não havia motivo para duvidar da versão da queda, Beatriz foi transportada para o Hospital Santos Silva, em Gaia, onde acabou por falecer. O marido acompanhou a mulher até ao hospital, numa ambulância dos bombeiros.
Como uma queda fatal nas escadas é uma morte violenta, foi ordenada autópsia e as primeiras observações revelaram sinais de agressão. Foi ativada uma brigada de investigação de homicídios da PJ do Porto. Na residência, os vestígios hemáticos encontrados não coincidiam com a versão do marido, que foi questionado sobre a versão apresentada aos familiares e bombeiros, sendo de imediato apontado como suspeito.
O relatório preliminar de autópsia chegou pouco depois, imputando a morte não a uma queda, mas a uma asfixia mecânica. O marido já não teve escapatória. Confessou que houve uma discussão, garantindo, ainda assim, que não teve intenção de matar a mulher, com quem sempre viveu.
Pormenores
População incrédula
Os vizinhos não encontram explicação para o homicídio. "Sempre foi super cuidadoso com a mulher. Ele estava com cancro e talvez estivesse a passar por uma depressão por causa da doença que estaria a alastrar-se", confiou ao JN uma vizinha.
Sem queixas
O idoso, que foi eletricista de profissão, não tem antecedentes criminais, nem nunca houve qualquer queixa por violência doméstica ou agressões.
Dois filhos
O casal tem dois filhos que deixaram a casa familiar para se emancipar há muitos anos. Fazem visitas regulares.