Vítima, de 26 anos, viveu quatro anos de terror, violência e miséria, em Paredes. PJ investigou caso em 2017, mas só agora deteve o agressor.
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Durante quatro anos, uma toxicodependente com uma ligeira deficiência mental, hoje com 26 anos, foi obrigada a prostituir-se todos os dias, violada e agredida violentamente pelo companheiro. Vivia numa casa sem água, luz e casa de banho, com portas sem puxador e janelas trancadas com pregos e cimento, no concelho de Paredes.
Mesmo assim, a vítima conseguiu fugir em quatro ocasiões e denunciar um caso que, em 2017, chegou a ser investigado pela Polícia Judiciária (PJ). Porém, só agora, após diligências efetuadas pelo Núcleo de Investigação Criminal e Apoio a Vítimas Específicas (NIAVE) da GNR, é que o desempregado, de 47 anos, foi detido, indiciado pelos crimes de sequestro, tráfico de pessoas e violação e colocado em prisão preventiva.
Conheceram-se no verão de 2016, quando a mulher pernoitava nas mesmas ruas do Porto onde se prostituía. Nessa altura, o ex-marceneiro convenceu-a a ir viver consigo, prometendo-lhe habitação, segurança e metade dos lucros dos atos sexuais. Nos primeiros meses, as promessas foram cumpridas, mas logo depois a mulher começou a ser forçada a prostituir-se num monte de Paredes, até quando estava doente. Diariamente, era levada para a mesma mata para manter relações sexuais com dezenas de homens.
E quando tentava resistir era agredida com murros e pontapés, atirada ao chão e arrastada pelos cabelos. Passou a ser obrigada a entregar todo o dinheiro que ganhava com a prostituição e metade do subsídio social de que beneficiava. Recebia, somente, alimentação e droga para sustentar o vício.
Impedida de sair de casa
Para que a vítima não fugisse, o desempregado retirou o puxador da porta da entrada e colocou pregos e cimento nas janelas da residência. A mulher só saía da casa, que não dispunha das mínimas condições de habitabilidade, na companhia do agressor.
Em 2017, a vítima foi apanhada a furtar num supermercado e contou, então, à GNR, que estava a ser explorada sexualmente. Foi colocada numa instituição e a PJ investigou a denúncia. Contudo, o indivíduo não chegou a ser detido, localizou a vítima e, com ameaças de morte, fez com que esta regressasse a Paredes.
Regressaram também as agressões e as relações sexuais forçadas. Assim como as tentativas de fuga, que fizeram com que a situação chegasse ao conhecimento do NIAVE de Penafiel. Numa busca efetuada no início deste mês, foi recolhida prova que confirmou o terror vivido pela vítima. Esta semana, a PJ, que voltou a tomar conta do processo, deteve o ex-marceneiro.
Vigiada a toda a hora
O detido vigiava a mulher enquanto ela se prostituía. Sempre que esta permanecia mais tempo do que o estipulado com os clientes era ameaçada.
Correu monte abaixo
Apesar de vigiada, a vítima correu monte abaixo e pediu auxílio. Seria transportada pela GNR à estação para apanhar um comboio até à casa da mãe. Foi localizada pelo agressor.
Fugiu para o quartel
Meses mais tarde, a toxicodependente conseguiu fugir novamente, quando estava a jantar num restaurante. Refugiou-se num quartel dos bombeiros e, mais uma vez, denunciou o caso à GNR.