O namorado de Lara Gonçalves, jovem de 17 anos assassinada em casa, na Moita, em outubro de 2023, desmentiu em tribunal que a vítima tivesse dívidas de droga, refutando a tese do irmão da adolescente, julgado pelo homicídio. Segundo Alexandre, foram traficantes de droga a quem a irmã devia dinheiro que a mataram.
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“A Lara não traficava droga e quem nos vendia haxixe para consumir eram amigos dela, moradores no bairro”, disse Rui Alvarenga, no Tribunal de Almada, durante nova sessão de julgamento.
A acusação do Ministério Público (MP) indica que Lara Gonçalves foi asfixiada até à morte em casa, na Quinta da Fonte da Prata, em Alhos Vedros, a 2 de outubro de 2023, pelo irmão, Alexandre, de 22 anos, quando estavam os dois na habitação. O MP acusa-o de assassinar a jovem por ela consumir estupefacientes e ter comportamentos que iam contra a sua fé cristã, nomeadamente relações sexuais com homens casados.
O arguido é autista e o MP considerou, no despacho de acusação, que, apesar de saber o que fez, não é capaz de avaliar a gravidade dos atos.
Alexandre sempre negou a autoria do crime, garantindo em tribunal que foi ameaçado por indivíduos que não conhecia - e que não consegue identificar - para que o levassem a sua casa com o objetivo de acertarem dívidas de droga com Lara. Segundo o jovem, foram eles que mataram a irmã.
O namorado da vítima contou, em tribunal, que namoravam há quatro meses. "Estive com a Lara na sexta-feira anterior e fumámos haxixe. Ela não traficava nem tinha quaisquer problemas com traficantes”. Na manhã do crime, Rui falou com ela por mensagem. “Disse-me que não ia à escola porque se sentia mal, que o pai logo lhe justificava as faltas. Eu disse que podia passar por casa dela, mas depois parece que a conversa ficou interrompida, ela deixou de responder", afirmou.
Nuno Gonçalves, pai da vítima e do suspeito, que vivia na mesma casa, contou que, na manhã do crime, a filha lhe telefonou. “Eu estava a atravessar a Ponte 25 de Abril e ela disse que estava alguém na porta, que parecia que estavam a arranhar a porta e que estava assustada por estar sozinha em casa. Eu julguei que fossem crianças, visto que há muitos miúdos no bairro, mas não dei importância. Só mais tarde é que a minha ex-mulher me ligou porque a Lara faltou e eu pedi à minha mãe para ir lá a casa ver se ela estava a dormir”. Foi a avó de Lara que encontrou a jovem deitada de cabeça para baixo na sala, numa poça de sangue, já morta.
Para Nuno, o homicídio da filha foi cometido por mais do que uma pessoa. “A minha filha era forte, ia dar luta se fosse só uma pessoa e a própria Polícia Judiciária disse-me que acreditava que tinha sido mais que uma pessoa a cometer o crime”. Em tribunal, acrescentou que sabia que a filha consumia haxixe, mas duvidou de qualquer dívida com tráfico. “Ela tinha sempre dinheiro, eu dava-lhe para gastar, nunca me falou em problemas”.
O pai do arguido disse ainda que estranhou o comportamento do filho logo no dia do crime. “Estava a rir-se, mas ele tem autismo e ri-se muitas vezes por estar nervoso. Nos dias depois, senti que ele queria falar comigo, mas nunca me disse nada. Só soube do que aconteceu quando ele foi preso e depois contou-me que foram outros que a mataram, não ele", revelou.
