Julgado por homicídio em Lousada, confessa tudo. Diz que "não andava bem", está arrependido e pede desculpa.
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Nuno Soares confessou, na terça-feira, no Tribunal de Penafiel que matou o pai à facada na casa onde viviam, em Caíde de Rei, Lousada, porque viu uma nuvem em forma de anjo e ouviu uma voz interior a dizer-lhe para "matar". Disse que "não andava bem da cabeça", arrependeu-se e chorou durante vários momentos da audiência.
"É tudo verdade", começou por dizer Nuno Soares, 32 anos, confessando que matou o pai, Manuel Soares, por se ter sentido ameaçado por ele. "Uma noite apontou-me uma faca e eu encarei aquilo como uma ameaça de morte. Fiquei a cismar naquilo, com medo de que o meu pai me fizesse alguma coisa", contou, acrescentando que dormia com a porta do quarto trancada.
O medo que Nuno disse ter do pai foi contrariado por testemunhas, incluindo familiares, e pelas suas próprias palavras, pois também garantiu em Tribunal que o relacionamento "era bom". Às vezes também brincávamos e conversávamos muito", recordou.
Apesar deste bom relacionamento, a 3 de março do ano passado pegou em três facas e matou o pai, após "um habitual e tranquilo" jantar de família, num momento em que estavam os dois sozinhos. "O meu pai ficou sozinho na cozinha e eu vim cá fora. Gosto de vir apanhar ar e ver as estrelas. Estava a olhar para o céu e vi uma nuvem em formato de anjo que me fez lembrar os meus sobrinhos. Ouvi uma voz interior a dizer: "Mata, mata". E não tive outra reação a não ser aquela de que me arrependo profundamente", disse, em lágrimas.
O arguido, que trabalha como técnico numa empresa de ar condicionado, reconheceu que "não andava bem da cabeça" e até marcou uma consulta no médico de família, que iria acontecer no dia a seguir ao crime. Contou ainda que, após se sentir ameaçado pelo pai, foi à Polícia Judiciária "procurar ajuda", mas não teve coragem para falar e acabou por ir a uma igreja desabafar com um padre. Noutro dia, ouviu uma voz e sabia que era Jesus.
Nunca conseguiu, contudo, explicar o que o levou a matar o pai. "Não lhe consigo dizer, não tinha consciência do que estava a fazer senão não o tinha feito", afirmou. "Estou arrependido, peço desculpa à minha família, aos amigos do meu pai, à família do meu pai, a toda a gente", concluiu.
Pormenores
Família apoia
Após o homicídio, a família continua a apoiar Nuno Soares e visita-o na prisão. O irmão, o cunhado e duas tias disseram não perceber o que sucedeu.
Inimputabilidade
O advogado de Nuno Soares levantou a questão da inimputabilidade atenuada do arguido, procurando provar que no momento do crime sofreu um surto psicótico. A ser aceite, o pedido pode representar a redução da pena nos limites máximos até um terço.