Neonazis agridem voluntárias quando distribuíam comida a sem-abrigo estrangeiros no Porto
Três voluntárias, uma das quais menor, foram agredidas, na noite de terça-feira, Dia de Portugal, quando distribuíam comida pelos sem-abrigo da cidade do Porto. Os agressores são dois homens, de 24 e 27 anos, que, fazendo a saudação nazi, terão alegado que as mulheres não podiam dar alimentação a estrangeiros.
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O mais novo dos homens também agrediu um agente da PSP e foi detido.
As voluntárias de uma associação de apoio aos sem-abrigo estavam, pelas 22.30 horas, a distribuir comida pelos sem-abrigo da Rua Júlio Dinis e foram abordadas pela dupla. O vereador do Bloco de Esquerda na Câmara do Porto, Sérgio Aires, conta, ao JN, que os relatos que lhe chegaram davam conta de que os indivíduos surgiram “em tronco nu” e a fazer a saudação nazi. “Disseram às voluntárias que não deviam dar de comer a estrangeiros”, acrescenta.
Informações recolhidas pelo JN confirmam que os dois homens também afirmaram que os sem-abrigo estrangeiros “deviam ir para a terra deles”.
Recusou identificar-se e agrediu polícia
Entre estas palavras, os suspeitos insultaram e empurraram as voluntárias para que abandonassem o local. Uma das mulheres terá sido, inclusive, atingida a murro antes da chegada da PSP ao local.
Mas nem a presença dos agentes acalmou os ânimos. “A PSP promoveu a identificação dos suspeitos, bem como tentou obter a sua versão sobre os factos, ao que o suspeito das agressões recusou-se em fornecer a sua identificação e começou a empurrar os polícias, tendo, de seguida e sem nada que o fizesse prever, desferido um murro num dos polícias”, descreve um comunicado da PSP.
O homem, de 24 anos, foi “ali detido” e, depois de levado à presença das autoridades judiciárias, libertado. Ficou obrigado a apresentar-se uma vez por semana na esquadra da área de residência. Já o companheiro foi apenas identificado.
"Incidente perturbador", diz Câmara do Porto
A Câmara do Porto confirma que um “incidente perturbador interrompeu o trabalho de solidariedade desenvolvido por uma equipa de três voluntárias de uma organização que presta apoio a pessoas em situação de sem-abrigo na cidade do Porto”. “Esta organização integra o Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo – NPISA do Porto e encontrava-se a distribuir comida na Rua Júlio Dinis no momento da ocorrência”, frisa.
Manifestando “total solidariedade à organização envolvida, bem como às pessoas diretamente afetadas por esta inaceitável situação de altercação e agressão”, a autarquia portuense agendou uma reunião do NPISA Porto, para a próxima quarta-feira, para analisar o caso e que contará com a presença do comandante da Polícia Municipal, Leitão da Silva.
Antes, na segunda-feira, o tema também será debatido na reunião do Executivo camarário. “Irei levar o assunto a discussão, porque é preciso tomar medidas”, anuncia Sérgio Aires.
Porto igual a Atenas
O vereador do Bloco de Esquerda assegura que não é primeira vez que acontecem momentos de tensão entre membros de associações de apoio a sem-abrigo e elementos conotados com a extrema-direita, nomeadamente o Grupo 1143, liderado pelo neonazi Mário Machado.
“Já há algum tempo que eles andam a distribuir comida a sem-abrigo portugueses nas mesmas rotas das associações”, revela. Aliás, para Sérgio Aires, o que está a acontecer no Porto é muito semelhante ao que se verificou, em 2012, em Atenas, na Grécia.
“Recordo que o partido Aurora Dourada andava há meses nas ruas a distribuir comida — mas só para "gregos de sangue". Incentivavam o ódio racial e aproveitavam essas ações para espancar brutalmente imigrantes. Cheguei a encontrar e conversar com vários a quem, além das agressões, tinham arrancado os dentes”, escreveu nas redes sociais Sérgio Aires.