Neonazis divididos entre guerrilha e grandes ataques: "Não estamos aqui para ser um grupo fofinho”
Movimento terrorista desmantelado pela PJ debateu estratégia para derrubar regime, com uma certeza: “Nós não estamos aqui para ser um grupo fofinho”.
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Todos os membros do Movimento Armilar Lusitano (MAL), desmantelado pela Polícia Judiciária na terça-feira, concordavam que era preciso constituir uma milícia armada para derrubar o regime em Portugal. Mas, enquanto uns desejavam avançar rapidamente para uma aparatosa ação violenta, como um assalto à Assembleia da República, outros defendiam que o grupo neonazi ainda não tinha pessoal, meios e preparação militar suficiente para tanto. A realização de atentados típicos da luta de guerrilha foi alternativa proposta nas conversas que os radicais tiveram, ao longo dos últimos anos, nos grupos de Facebook, Telegram e Signal.
Na monitorização feita às redes sociais do MAL, a PJ percebeu, logo em 2021, que o movimento extremista privilegiava a violência como forma de protesto. “Nós não estamos aqui para ser um grupo fofinho, com cartazes a gritar na rua, como já avisámos. Nós estamos a preparar algo que exige sacrifício de todos nós”, avisava Bruno Carrilho, um dos líderes do MAL, detido na Operação Desarme 3D.
Pedido sigilo absoluto
Na mesma publicação, o ex-emigrante na Suíça defendia que “não será possível conceber soluções políticas para os nossos problemas sem possuirmos eventualmente uma vertente militar”. “Em primeiro lugar, precisamos de olhar para este movimento como a oportunidade de criar uma comunidade de apoio mútuo armado e equipado”, lia-se também.
Nas respostas recolhidas pela PJ, vários militantes manifestaram concordância e garantiam estar prontos para a luta armada. Em dezembro de 2021, um dos membros do MAL alegava, inclusive, que uma manifestação promovida pelos “Coletes Amarelos” podia “ser a primeira tentativa de entrar na Assembleia”. “Estejam alerta. Pode ser preciso ir todos para lá”, escrevia.
Este não era, no entanto, o sentimento geral. “Não estamos preparados, nem estaremos a curto prazo. Somos 3%. A guerrilha será ideológica, pelo menos, para já”, sublinhou, na mesma altura, outro militante do MAL.
No final do ano seguinte, o movimento mantinha a vontade, segundo o Ministério Público, de “combater projetos globalistas obscuros de Esquerda que visavam a implementação de uma Nova Ordem Mundial – Agenda 2030”. Mas, vários membros tinham noção dos crimes de que podiam ser acusados e recomendavam cuidado. “É crucial que o sigilo seja absoluto. Muitos serão pais de família que têm de sustentar os seus. É preciso ter noção que todo e qualquer grupo que saia da alçada e manipulação governamental pode vir a ser acusado de terrorismo... a moldura penal nestes casos não é meiga”, referia um deles.
“Não se vendam”
“Não se vendam, não abdiquem de valores. Armem-se moralmente e militarmente... aprendam a subsistir. Mas, para já, mantenham-se racionais, nos vossos empregos e vidas normais. Se algo acontecer a curto prazo, serão ações de guerrilha localizadas ou atentados daqueles em que há um rebentamento a cada mês”, dizia outro.
O nível de violência no discurso escalou a ponto de outro dos líderes do MAL, o chefe da PSP Bruno Gonçalves, confidenciar à irmã, num telefonema escutado pela PJ, que estava “em cima da mesa a possibilidade de serem desencadeados ataques com recursos a engenhos explosivos, tendo como alvos eventos importantes e altas figuras políticas de governos europeus”.