Cantor foi alvo de buscas, tinha telefone encriptado, mas diz que é inocente. Rede escondia cocaína em malas enviadas para os aeroportos nacionais.
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A Polícia Judiciária (PJ) desmantelou ontem um grupo que, nos últimos anos, usou os aeroportos do Porto e de Lisboa para importar centenas de quilos de cocaína do Brasil e traficá-las em Portugal e Espanha. Entre os suspeitos de tráfico de droga está o cantor Nininho Vaz Maia, que foi alvo de buscas. O artista não foi detido e clamou inocência, mas a PJ suspeita que tenha transportado cocaína para Espanha pelo menos uma vez. Essa suspeita consta dos mandados, emitidos para executar a diligência.
Às 7 horas de ontem, alguns dos 80 inspetores da PJ que participaram na Operação SKYS4ALL bateram à porta da casa de Nininho Vaz Maia, na Grande Lisboa, e anunciaram ao cantor que iriam realizar a busca descrita no mandado judicial. Nininho Vaz Maia foi constituído arguido, mas, no final da diligência, ficou em liberdade e não foi notificado para comparecer no tribunal para ser interrogado pelo juiz.
A PJ suspeita que o artista, mesmo não sendo um dos líderes do grupo, está ligado à compra de cocaína no Brasil e revenda em Portugal e em Espanha. E o facto de ter sido apreendido um telefone encriptado na sua posse (igual aos usados por outros suspeitos) consolidou os indícios recolhidos pela PJ.
Cerca de 150 mil euros
A PJ também encontrou algum dinheiro na residência de Ninhinho Vaz Maia – na operação foi apreendido um total de 150 mil euros –, mas, contrariamente ao que foi avançado, nada aponta para o envolvimento do artista na “lavagem” dos lucros obtidos com o tráfico.
A equipa do cantor confirmou que “foram realizadas buscas e [que] o Nininho foi acompanhado para prestar declarações, colaborando desde o primeiro momento com as autoridades”. Porém, garante a sua inocência.
“Importa deixar absolutamente claro que o Nininho está inocente e que confiamos plenamente na Justiça e estamos certos de que tudo será esclarecido com brevidade. Reafirmamos total disponibilidade para colaborar com as autoridades em tudo o que for necessário, mas rejeitamos qualquer associação precipitada”, lê-se em comunicado.
O grupo agora desmantelado é suspeito de usar, há vários anos, os aeroportos do Porto e de Lisboa para importar cocaína do Brasil. A droga chegava escondida em malas de viagem, retiradas do porão dos aviões por funcionários de handling subornados pela organização.
Vários destes trabalhadores foram sendo detidos desde o início da investigação. No mesmo período, foram apreendidos, ainda nos aeroportos, centenas de quilos de cocaína que o grupo iria introduzir no mercado negro.
A PJ continuará com as diligências, até porque os principais elementos da rede não estão entre os cinco detidos ou arguidos. Já Nininho Vaz Maia, assegurou fonte da organização, manterá o concerto do último dia da Queima das Fitas do Porto.
Ganhou fama a cantar com pulseira eletrónica
Avelino Abel Vaz Maia, conhecido por Nininho, cresceu num bairro de barracas, nas Olaias, em Lisboa. Aos 10 anos, viu o pai ser preso. Também se lembra de ver pessoas mortas nas ruas do bairro, onde “não se falava de sucesso”. Aos 25 anos, pela participação numa rixa na noite, foi condenado a um ano e meio de prisão domiciliária. Em reclusão, passou a dedicar mais tempo à música e gravou vídeos a cantar e tocar guitarra no sofá da sala, de tronco nu e pulseira eletrónica no tornozelo. Os vídeos, publicados no YouTube, tiveram milhões de visualizações. “Nem sonhava ser cantor. Eu não tinha coragem de subir a um palco e cantar para pessoas. Só cantava para a família”, afirmou, em entrevista à “TV Guia”. Depois de ganhar popularidade, dedicou-se em exclusivo à música e tornou-se um dos artistas mais famosos de Portugal, conseguindo encher a Meo Arena, em Lisboa, duas noites seguidas. Foi ainda mentor no programa “The Voice Kids”, da RTP.
Apreensões
Encriptação
O telefone encriptado confiscado a Nininho Vaz Maia serviria, suspeita a PJ, para comunicar com os restantes elementos da organização criminosa.
Novo sistema
Os aparelhos apreendidos estavam equipados com o sistema operativo Sky, que veio substituir o Encrochat. Ambos não necessitam de cartões SIM nem usam GPS, o que impede que sejam rastreados pelas autoridades.
Carros e armas
Além dos telefones encriptados e os 150 mil euros, a PJ apreendeu cinco viaturas, duas armas de fogo e documentação.