"Nunca adquiri estupefaciente para venda, mas para consumo recreativo", afirma Bruce de Francos
Bruce Teixeira, conhecido por Bruce de Francos, negou, esta sexta-feira, de forma categórica qualquer envolvimento na compra ou venda de droga, assumindo apenas consumos pessoais e ocasionais de canábis, cocaína e álcool. "Nunca adquiri qualquer estupefaciente para venda, mas sim para consumo recreativo e esporádico", começou por dizer o arguido ao coletivo de juízes que o está a julgar por tráfico de droga.
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O Ministério Público (MP) sustenta que Bruce Teixeira, conhecido como o "Traficante do Ferrari", liderava uma "estrutura criminosa" que, entre 2023 e maio de 2024, cultivou canábis em Ourense, Espanha, que depois preparava, armazenava e vendia no Porto, com a ajuda da irmã e de outro cúmplice. Esta atividade, segundo o MP, ter-lhe-á rendido centenas de milhares de euros e financiado o seu estilo de vida de luxo, marcado por carros de alta gama, como um Ferrari 488 GTB, que foi apreendido e, desde julho deste ano, está ao serviço da PSP.
Esta sexta-feira, na primeira sessão do julgamento, no Tribunal de São João Novo, Bruce Teixeira rejeitou que assim fosse. "Não sei como se cultiva [canábis]. Sei como é, mas nunca fiz. Vi em fotos. Ao vivo, nunca vi", afirmou o arguido, de 38 anos, atualmente em prisão preventiva na cadeia de Custóias.
O amigo agricultor
Quanto à ligação com Hélder Soares - que a acusação diz que, por ser "experiente" na matéria, foi recrutado por Bruce para cuidar do cultivo da canábis, sendo pago por este trabalho -, o arguido disse conhecê-lo desde a infância, mas garantiu que nunca tiveram qualquer "relação comercial".
Durante o seu depoimento, "Bruce de Francos" - Francos é o bairro do Porto de onde é originária a sua família - também não apresentou qualquer explicação para a droga encontrada na casa da sua irmã, Catarina Teixeira. "Estranhei o que foi apreendido", referiu, acrescentando, a seguir, que chegou a assumir a posse do estupefaciente para protegê-la.
Hélder Soares e Catarina Teixeira, amigo e irmã de Bruce Teixeira, são também arguidos, mas estão com medidas de coação não detentivas. Foto: Amin Chaar
Quanto à "box" que alugou num centro comercial na rotunda da Boavista, no Porto - e que o Ministério Público diz que era utilizada para ocultar droga antes de ser distribuída a outros traficantes -, afirmou que servia apenas para guardar roupas e objetos de marca, pagando 27 euros mensais e mantendo o espaço pelo acesso ao parque de estacionamento.
Tramado pelo Ferrari
O Ministério Público diz que, às sextas-feiras, Bruce Teixeira deixava o superdesportivo na garagem e pegava num discreto Fiat Tipo. O veículo, registado como TVDE, permitia, segundo a acusação, não chamar atenção. Ao final da tarde, apanhava o ajudante, Hélder Soares, após este sair do trabalho, e rumavam até Ourense para cuidar de uma estufa, com mais de 500 plantas de canábis. No domingo, regressavam a casa com as sumidades das plantas e também com pacotes de cocaína comprados a cartéis galegos. As drogas eram depois preparadas com a ajuda da irmã de Bruce, Catarina Teixeira, de 31 anos, e vendidas a traficantes ou consumidores VIP.
A discrição de Bruce foi traída pelo seu gosto por potentes carros. Já tinha um Mercedes e um BMW, mas quis mais. Comprou um vistoso Ferrari 488 GTB, importado da Hungria. Em setembro de 2023, foi fiscalizado numa operação stop na Via Norte, em Matosinhos, quando conduzia o superdesportivo vermelho ainda com matrícula húngara.
Bruce até já estaria debaixo do radar das autoridades, mas, ao ser detetado num carro de 270 mil euros, atiçou ainda mais a curiosidade policial. A vigilância foi apertada e em poucos meses reuniram-se provas do seu alegado papel central no abastecimento do tráfico em bairros como a Pasteleira Nova, Ramalde ou o Cerco.
Quando Bruce foi detido, em maio de 2024, o Ferrari já estava à venda num stand. Mas já não foi a tempo. O veículo foi apreendido, tal como várias drogas e as centenas de milhares de euros, escondidos num gavetão em casa da mãe, na cidade da Maia.
Bólide ficou ao serviço da PSP
O Ferrari 488 GTB apreendido ao arguido está, desde julho deste ano, ao serviço da PSP. O superdesportivo italiano, de 670 cavalos e velocidade máxima de 330 km/h, foi adaptado e está reservado para missões especiais. Faz transporte urgente de órgãos humanos, policiamento de visibilidade em ações de prevenção, exibição em eventos e acompanhamento de altas patentes.