A secretária de Estado da Administração Interna rejeitou, esta quarta-feira, no Parlamento, que o Porto seja um "barril de pólvora". Isabel Oneto mostrou-se surpreendida pela forma negativa como, regra geral, os deputados dos vários partidos, à exceção do PS, pintaram a cidade no que diz respeito à criminalidade.
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Isabel Oneto estava a ser ouvida na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, a pedido do grupo parlamentar do PSD, sobre a falta de capacidade operacional da PSP na cidade Invicta, onde foi confrontada com descrições que davam conta, disse, "de que o Porto parecia o Kosovo".
Indagada sobre a questão do tráfico de droga na cidade, a governante começou a sessão a salientar que esse era "um fenómeno europeu", que aumentou após a pandemia, e que, de facto, era "uma preocupação" do Governo. No entanto, quis logo esclarecer que o combate ao problema exigia "respostas articuladas entre o patamar central e o poder local", desvendando que "já há reuniões marcadas para o início de outubro para dar resposta a estas situações."
Questionada sobre a alegada falta de competência da Câmara do Porto para atuar na movida, a governante recordou que quem define os horários não é o ministério, mas sim as autarquias. "A questão da gestão dos estabelecimentos é da autarquia. O que nós fazemos é não permitir excessos que vão além daquilo que é o razoável", frisou, recordando que ocupava um cargo de governadora civil no caso da Noite Branca, que, em 2007, marcou a noite do Porto com repetidos episódios de violência, incluindo vários homicídios. "Na altura, conseguimos estancar [a violência], mas, se não há um permanente acompanhamento em determinadas zonas, esses fenómenos voltam a acontecer", salientou.
Isabel Oneto disse que não era pelo facto de surgirem determinados fenómenos espaciotemporais problemáticos que se devia considerar que nada funcionava. "O que é contraditório com os números e pela forma como Portugal é visto", contrariou. "Houve aqui umas descrições de que o Porto parecia o Kosovo. O Porto não é um barril de pólvora", disse, em resposta às perguntas dos deputados.
Nova estrutura da UEP "em breve"
Indagada sobre as condições da Unidade Especial de Polícia, na Quinta da Bela Vista, a governante adiantou que, por ser uma estrutura mais "pesada" e comportar outro tipo de valências, o processo está mais demorado, mas "em breve haverá uma resposta". Já sobre as parcas condições salariais, Oneto referiu que os salários na PSP "estão acima daquilo que é a média de entrada na Função Pública".
"Nunca houve aumentos como este ano, principalmente para aqueles que iniciam funções. Está previsto o aumento de 20% em quatro anos", projetou.
Partidos discordam e falam em insegurança
Na manhã desta quarta-feira os deputados foram bastante críticos com o Governo. Mónica Quintela (PSD) questionou a falta de meios da PSP no Porto, disse que a Polícia Municipal estava desfalcada e que as forças de segurança deixaram de ter resposta operacional. "As esquadras móveis têm vantagens, mas não substituem as esquadras fixas. Ainda há dias passei por uma e fez-me lembrar as farturas Rafaela", disse, revelando que o Comando do Porto perdeu 300 efetivos na última década, situação que, diz, "vai agravar-se".
Pedro Pinto, do Chega, lamentou que o Governo tenha recorrido a dados desatualizados para contrariar a perceção pública de que a criminalidade está em alta. Referiu ainda que o problema de tráfico no Porto é grave e abrange o distrito. "A cidade do Porto alimenta o tráfico a Norte do país", frisou.
Patrícia Gilvaz (IL) sublinhou que a cidade do Porto "sempre conviveu com o tráfico de droga", mas que o problema agravou-se e Alma Rivera, do PCP, frisou que o fenómeno não é exclusivo da Invicta.
Da parte do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares quis destacar a "escassez" cada vez maior das respostas dadas para combater o problema. Já o Livre, de Rui Tavares, anteviu que a "pressão" vai aumentar sobre as estruturas de segurança.
Paulo Araújo Correia, do Partido Socialista, foi o mais otimista e criticou os deputados por quererem discutir segurança interna "com base em achismos e em notícias de jornais". "A criminalidade geral desceu 13%, face a 2019. Há um maior aumento investimento nas viaturas, infraestruturas, em habitação", argumentou.