Líder de associação criminosa violenta estava a residir em Portugal há dois anos. Supremo Tribunal de Justiça validou extradição e russo enfrenta pena até 15 anos de prisão.
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Um dos principais mafiosos russos e chefe do crime organizado na região de Murmansque, Norte da Rússia, foi detido neste verão, na Nazaré. Stepan Furman, 58 anos, tinha dois passaportes falsos - um romeno e outro israelita - e há dois anos que vivia em Portugal com a companheira. Liderava um grupo responsável por homicídios, tráfico de droga, roubos, fraudes e extorsões.
Era procurado desde 2018 pelas autoridades russas. Neste ano, inspetores da Unidade Nacional de Contra Terrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária conseguiram apanhar-lhe o rasto em Montemor-o-Velho, onde já comprara um apartamento. Depois de confirmarem a sua identidade, aguardaram o momento certo para o deter.
A ocasião chegaria a 20 de junho. Stepan e a namorada foram de passeio até Fátima, Óbidos e Nazaré. Os inspetores esperaram que pagasse a conta do jantar num dos melhores restaurantes da Nazaré e avançaram. Ele não resistiu.
Ao longo da sua vida criminosa, Stepan já fora detido várias vezes. Porém, nunca ficava preso muito tempo. Usava a sua esfera de influências para corromper a justiça ou evadir-se. Em setembro de 2018, sentindo que o cerco começava a apertar e que a sua sorte findava, saiu da Rússia e nunca mais voltou. Um mês depois era emitido um mandado de captura internacional. Passou por França e Alemanha e, em agosto de 2019, instalou-se definitivamente em Portugal com a companheira.
Um "Ladrão na lei"
Stepan Furman ganhou o estatuto de "vor v zakone" (ladrão na lei), um cargo de topo na hierarquia criminosa russa, após ter cumprido pena de prisão, em 1994. Quando saiu, passou a chefiar a "Murmansky", máfia da região de Murmansque, 200 quilómetros a norte do Círculo Polar Ártico, daí também ser conhecido como Stepan Murmansk.
Segundo a acusação da Federação Russa, até agosto de 2019, montou e liderou o crime em várias cidades da região, reunindo regularmente com "vor v zakone" de outras regiões para a prossecução de crimes como tráfico de droga, homicídios, roubos e extorsão.
Após ser detido na Nazaré, o russo opôs-se à sua extradição. A 30 de setembro, o Tribunal da Relação autorizou a sua entrega à Rússia para procedimento penal. Stepan recorreu, mas, a 24 de novembro, o Supremo Tribunal de Justiça acabaria por validar a extradição. Está acusado de "ocupar a mais alta posição na hierarquia criminosa", o equivalente a associação criminosa portuguesa, e enfrenta uma pena de até 15 anos de prisão.
Angariação
Um milhão de euros para fundo dos ladrões
Entre as tarefas atribuída a Stepan está a criação e gestão do "fundo comum de ladrões" de Murmansque, para apoiar membros do grupo detidos e financiar novas atividades criminosas. Segundo a "lei dos ladrões" da Rússia, todos os criminosos honrados devem contribuir para este mealheiro coletivo com dinheiro ou bens, como alimentos, bebidas e tabaco. Só entre 2017 e agosto de 2019, estima-se que Stepan tenha conseguido arrecadar mais de um milhão de euros para o "fundo dos ladrões".
Ladrões na lei
Surgiram nos gulags
Os "Vor V Zakone" - Ladrões na Lei - apareceram nos gulags (campos de trabalho forçados soviéticos) durante o consulado de Estaline, nos anos 30 do século XX. Surgem associados a um código de honra que visava a entreajuda entre os reclusos.
Contributo de todos
Para ser "Vor" era necessário seguir um conjunto de rígidas regras, incluindo nunca ter trabalhado e já ter sido preso mais do que uma vez.
Vários tipos de crime
Os "Vor" aproveitavam as ligações criadas nas cadeias para lançar atividades ilegais dos mais variados géneros: extorsão, roubos, fraudes, tráfico de droga e de pessoas e homicídios.