O pai da grávida desaparecida da Murtosa confessou ter traficado droga, mas mostrou-se "arrependido" e prometeu não voltar a vender, ceder ou consumir droga, no início do seu julgamento, que decorreu esta quarta-feira no Palácio da Justiça de Aveiro.
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Alfredo de Jesus Vieira da Silva, de 57 anos, que está em prisão domiciliária com pulseira eletrónica, na Murtosa, declarou aos juízes viver com uma pensão de invalidez de cerca de 600 euros.
Segundo a acusação do Ministério Público, estão em causa crimes de tráfico de cocaína, crack e haxixe, entre os anos de 2020 e 2023, tendo Alfredo de Jesus sido detido a 13 de março de 2023, pelo Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Ovar.
A GNR investigava o pai de Mónica Silva há cerca de oito meses, por suspeitar que se dedicava ao tráfico de droga, tendo-lhe apreendido então 66 doses de crack, 86 doses de canábis, 230 euros em numerário, dois telemóveis e uma balança de precisão.
Com vigilâncias, seguimentos e escutas telefónicas, a GNR de Ovar apurou que nas conversas com os toxicómanos seria usada linguagem codificada como "ameijoa" para referir droga, e "quilos" ou "caixas" para indicar o número de "pedras" de cocaína.
Arguido "arrependido" e "destroçado"
Alfredo de Jesus iniciou o depoimento a "pedir perdão ao tribunal", dizendo "estar muito arrependido" e também "destroçado". Mas confessou só parte da acusação, ao afirmar que nunca fez da venda de droga o seu modo de vida, sendo antes um negócio "esporádico".
O arguido desmentiu alguns dos rendimentos apontados pelas investigações criminais, nomeadamente a entrega por conta de uma venda de 300 euros, assim como tráfico de heroína, negando ainda entregas de droga a uma das três filhas, que não Mónica.
Alfredo de Jesus começou por confessar que às vezes vendia droga em vários pontos da Murtosa, encontrando-se "por ali", de acordo com a sua própria expressão, com toxicómanos, mas "às vezes até lhes dava droga, porque nem todos podiam pagar".
O pai da grávida desaparecida disse ter começado a "fumar erva" e depois cocaína, ao seguir amigos que iam uma vez por mês ao Porto, de comboio, para comprar o produto, gastando entre 200 e 250 euros de cada vez, sempre que recebia dinheiro da pensão.
Após concluir as declarações sobre os factos pelos quais está a ser julgado, Alfredo de Jesus fez questão de deixar algumas palavras ao Tribunal de Aveiro. "O meu sogro morreu, agora morreu a minha sogra, assassinaram a minha filha, com 33 anos, grávida, mas nem o corpo dela aparece", lamentou, afirmando-se "muito arrependido". "A droga para mim acabou", rematou.