Prémios e apostas já são pagos por MB Way. Nos últimos cinco anos, autoridades prenderam 57 pessoas por mês.
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Com os cafés e bares fechados durante o confinamento, o jogo ilegal passou dos estabelecimentos para o conforto dos lares, longe dos olhares e do alcance das autoridades, que viram os números de detenções cair a pique no primeiro semestre deste ano. A componente cada vez mais tecnológica do mundo das apostas clandestinas permitiu aos jogadores manter o vício, apesar da pandemia. E até já se pagam prémios e apostas por MB Way.
Os números são claros. Tanto a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) como a GNR e a PSP nunca detiveram tão poucas pessoas por crime de jogo ilícito. O confinamento que obrigou, durante vários meses, ao encerramento dos cafés, local onde normalmente era apanhada a maior parte dos prevaricadores. Se, desde 2015, a média de detenções das polícias situava-se em 57 por mês, nos primeiros seis meses do ano foram detidas "apenas" 107 pessoas, enquanto no ano passado a média do primeiro semestre era de 225. Ou seja, mais do dobro.
Mas o jogo ilegal nunca deixou de crescer. Apenas passou do café para casa, com apostas feitas em tablets ou de telemóveis. "Os donos dos estabelecimentos que carregavam os créditos para que o cliente pudesse jogar ou que pagavam os prémios deixaram de o fazer no café que estava fechado por causa da pandemia. Mas o negócio ilegal continuava na mesma. Apenas passaram a encontrar-se noutros locais para trocar o dinheiro. Os jogadores iam depois para as suas residências, onde é impossível o crime ser detetado através de uma fiscalização", adianta ao JN uma fonte policial.
Aposta em tecnologia
Não é de agora que começaram a desaparecer as tradicionais máquinas de póquer, que estavam habitualmente pousadas nos balcões dos cafés ou "disfarçadas" como simples máquinas de diversão. Há muito que as redes de jogo ilegal apostam na tecnologia para fugir às malhas das autoridades, mas esta componente aumentou com o confinamento.
"A evolução tecnológica tem sido exponencial, representando um forte impacto no que à exploração ilícita de jogo diz respeito. Estão a ser desenvolvidas e utilizadas cada vez mais aplicações informáticas e websites nos quais são criadas "contas" e "utilizadores", permitindo-se que o jogador aceda a um jogo de fortuna ou azar ou efetue apostas desportivas exploradas de forma ilícita, no conforto da sua casa, ou em qualquer outro lugar", assinala ao JN fonte da ASAE que, no primeiro semestre do ano, deteve apenas 12 pessoas, em comparação com as 51 no mesmo período do ano passado.
Pagamento por MB Way
Apesar de o jogo ter passado para as residências, o processo continua a ser o mesmo que existia antes da pandemia.
"O jogador terá de entregar um determinado montante em numerário ao explorador do estabelecimento que, em ato contínuo, credita tais valores na conta criada em nome desse jogador, podendo o jogador também, se preferir, transferir o referido montante via MB Way para a conta bancária (particular) do explorador do estabelecimento", refere a mesma fonte da ASAE.
Locais privados
Apesar do confinamento, apostadores viciados em póquer continuaram a encontrar-se para jogos ao vivo, em cafés ou até associações culturais e desportivas. Mas até nisso as autoridades enfrentam dificuldades.
"No caso de casinos ilegais, o póquer é o que mais se evidencia, havendo uma grande dificuldade de deteção da infração por se encontrarem muitas vezes em locais privados de acesso restrito e sendo muitas vezes usadas transferências bancárias online, em detrimento do dinheiro vivo", assegura fonte da GNR.
Balanço
1739 denúncias por exploração de jogo ilícito foram recebidas pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), entre 2015 e julho de 2020.
25 denúncias por práticas de jogo ilegal, por mês, em média, têm chegado à ASAE, nos últimos cinco anos.
Pormenores
Porto no topo
Os distritos onde tem sido registada maior incidência da exploração de jogo ilícito, desde 2015, foram Porto, Braga, Aveiro, Lisboa e Setúbal, por esta ordem.
1056 identificados
Nos últimos cinco anos, além das detenções, a PSP também identificou 1056 indivíduos por crime de jogo ilegal. Eram pessoas presentes em locais de jogo durante as operações de fiscalização.
Mais no inverno
Nas zonas da responsabilidade da PSP, registaram-se mais detenções durante os meses de inverno, entre novembro e março, com exceção do mês de dezembro.