O antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho (2011-2015) contou esta terça-feira, em tribunal, que "a única vez" que falou "pessoalmente" com Manuel Pinho, ministro da Economia no primeiro Governo do socialista José Sócrates (2005-2009), foi em 2008, quando "estava a pensar" candidatar-se à liderança do PSD.
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"Achei interessante conhecer o ministro da Economia e conhecer a visão que tinha [da economia portuguesa]", explicou o social-democrata, ao testemunhar no julgamento de Manuel Pinho, acusado pelo Ministério Público de, entre 2005 e 2012, ter recebido, através de offshores, cerca de cinco milhões do ex-presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, igualmente arguido, para beneficiar a instituição financeira e o Grupo Espírito Santo (GES) enquanto exerceu funções governamentais.
Estes negam e alegam que os valores em causa estão relacionados, maioritariamente, com um acordo celebrado em 2004 entre Manuel Pinho e o BES para compensar o economista pelo seu afastamento da coordenação da área de mercado de capitais do banco, do qual era alto quadro.
Esta terça-feira, Passos Coelho garantiu, contudo, que em 2008 "não sabia" que o então ministro da Economia tinha estado ligado ao BES. A informação chegou-lhe "muito depois", "muito provavelmente no contexto de saída de Manuel Pinho do Governo", através de José Maria Ricciardi, antigo líder do BES Investimento (BESI).
Já com Ricardo Salgado, encontrou-se "em circunstâncias diversas", no âmbito das funções institucionais que desempenhou. "Não sou amigo [dele]", ressalvou o presidente do PSD entre 2010 e 2018.
Questionado sobre, se enquanto foi primeiro-ministro, confirmou se os seus ministros e secretários de Estado tinham deixado de receber dos seus anteriores empregadores, Passos Coelho sublinhou que "as funções públicas, por lei, são incompatíveis com qualquer outro cargo remunerado". "Não me recordo de ter perdido tempo com ninguém a explicar a lei", afirmou.
O julgamento prossegue durante a tarde desta terça-feira, com o testemunho de José Sócrates. Além de Manuel Pinho, de 69 anos, e Ricardo Salgado, de 79 e diagnosticado com Alzheimer, é ainda arguida no processo a mulher do antigo ministro da Economia, Alexandra Pinho, de 63. Em causa estão crimes de corrupção, branqueamento e fraude fiscal.