Peritos garantem fiabilidade da velocidade dos carros no acidente de Sara Carreira
Os dois peritos da GNR que calcularam a velocidade a que circulavam os veículos envolvidos no acidente fatal para a cantora Sara Carreira, a 5 de dezembro de 2020, garantiram a fiabilidade dos dados, durante a segunda sessão do julgamento, que decorreu na tarde desta quarta-feira, no Tribunal Judicial de Santarém.
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As alegações finais ficaram marcadas para 24 de novembro.
Interrogado pela advogada Carla Santos sobre o facto de o arguido Paulo Neves ter tido a “perceção de circular a uma velocidade superior ao que consta no relatório [cerca de 30 quilómetros por hora]”, Fábio Montês assegurou que os procedimentos seguidos permitiram “obter uma correspondência aproximada da velocidade” e acrescentou que, apesar de a qualidade das imagens ser “muito fraca”, não precisava de melhores para fazer o estudo.
Embora tenha avançado com uma explicação técnica, o autor do relatório de perícia defendeu que o cálculo da velocidade a que circulavam os arguidos Paulo Neves, Cristina Branco, Ivo Lucas e Tiago Pacheco “tem uma fiabilidade bastante grande”, e esclareceu que o trabalho de análise foi desenvolvido ao longo de três meses.
Após Fábio Montês ter recolhido toda a informação necessária e fazer a análise das imagens e das manchas de luz, coube ao perito em acidentes de viação da GNR Ricardo Barata fazer corresponder os pixéis à distância percorrida entre um determinado ponto aos metros percorridos na estrada, durante quatro segundos. “Qualquer aparelho de medição tem uma margem de erro admissível”, explicou. Contudo, disse não ter dúvidas de que as velocidades apuradas se situam entre o intervalo de valores indicado.
“Muito perturbada”
Durante a tarde, foi ainda ouvido Armindo da Costa, então companheiro da fadista Cristina Branco, que relatou o seu telefonema, após ter colidido com a viatura de Paulo Neves, e ter ido parar à faixa do meio, mas no sentido contrário. “Foi um telefonema muito atrapalhado, porque estava muito perturbada”, garantiu. “O pânico era muito evidente, porque creio que já tinham [ela e a filha] assistido ao segundo embate [de Ivo Lucas no seu carro].”
Armindo da Costa contou que, depois disso, Cristina Branco lhe disse que “o carro [de Paulo Neves] estava parado na estrada” e que lhe “bateu como se fosse contra uma parede”. A testemunha acredita que uma das preocupações da arguida fosse justificar-se, porque o veículo era dele e tinha sido comprado há um mês.
“Vivi um ano e meio de terror”, afirmou o ex-companheiro da fadista, que a caracterizou como “muito traumatizada”. “Após o acidente, durante muito tempo, a Cristina dizia que a última coisa de que se lembra foi de passar no pórtico e depois bater no carro com o símbolo da
Volkswagen”, recordou. Confirmou ainda que era frequente ter “ataques de pânico a pontos muito extremos”.
Amigo de Paulo Neves há cerca de 40 anos, Manuel Silva disse que o arguido “é uma pessoa responsável, pois mantém uma empresa firme, e deve ser um ótimo pai, porque se separou há uns anos e a filha optou por viver com ele”. Caracterizou-o como uma “pessoa pacata, correta, muito reservada e um grande amigo” e partilhou que o acidente o deixou “incomodado, apesar de não ter sido ele que o provocou”.
Já a filha do arguido, Marta Neves, confirmou que o pai cuidou dela desde os 12 anos. “Vive muito para o trabalho e para nós, para mim e para o meu filho”, afirmou. “É uma pessoa muito carinhosa, somos muito próximos e temos uma grande cumplicidade”, acrescentou. No entanto, disse que Paulo Neves não tinha o hábito de partilhar os problemas com ela e manifestou estranheza por, no dia do sinistro, ter conduzido sob o efeito do álcool, mas nunca o confrontou com isso. “O meu pai não transmite o que sente em relação ao acidente. Diz para não me preocupar.”
Alegações finais em novembro
No âmbito deste processo, estão a ser julgados por homicídio por negligência Paulo Neves, por conduzir embriagado a cerca de 30 quilómetros por hora na A1, sem sinalizar a “marcha lenta”; Cristina Branco, por “não circular com a atenção devida” e não ter reduzido a velocidade ou contornado o veículo de Paulo Neves, para evitar a colisão; e Ivo Lucas, por circular na faixa central entre 131 e 139 quilómetros por hora, e não ter reduzido a velocidade e ter embatido no veículo de Cristina Branco, causando a morte à sua namorada, Sara Carreira.
Tiago Pacheco é o quarto arguido e responde por crime de condução perigosa. Seguia na via central, a cerca de 150 quilómetros por hora, e não ter evitado o choque com o carro acidentado de Ivo Lucas e Sara Carreira.
A próxima sessão ficou marcada para dia 24 de novembro, ocasião em que ainda será ouvida uma testemunha indicada por Ivo Lucas e serão feitas as alegações finais.