Diogo Coelho recebeu dinheiro acordado, mas nunca enviou dados dos cartões prometidos. Jovem de 22 anos enfrenta extradição para os EUA e pode ser condenado a 52 anos de cadeia.
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O jovem português que geria um dos maiores fóruns mundiais de pirataria e que foi detido em Londres está acusado de seis crimes pelos Estados Unidos da América. A acusação já foi validada por um tribunal da Virgínia que pede a sua extradição. Pode ser condenado a uma pena máxima de 52 anos de prisão.
Diogo Coelho, 22 anos, foi apanhado pelo FBI em várias transações ilegais de bases de dados pirateadas. Caiu em várias armadilhas montadas pelas autoridades norte-americanas e, em março de 2019, sem o saber, até burlou um agente infiltrado do FBI.
O português, usando a alcunha de "Downloading", publicitou no RaidForums a venda dos dados de 1,1 milhões de cartões bancários. Foi abordado pelo agente infiltrado e garantiu-lhe que os dados eram "legítimos". Diogo sugeriu que usassem os serviços de intermediação oferecidos pelo fórum; ou seja, por ele próprio. O agente anuiu.
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Diogo enviou-lhe os dados de três cartões de crédito. O agente confirmou junto das instituições e dos legítimos donos que os dados eram reais e estavam a ser usados sem a sua autorização.
O infiltrado disse que aceitava o negócio e Coelho encaminhou-o para o Discord - uma aplicação de comunicações. Aqui, Diogo assumiu o nome de "Omnipotent" e ditou o modo da transação. O agente transferiu-lhe um bitcoin (na altura cerca 3700 euros). Porém, Coelho não enviou os dados prometidos, bloqueou o agente no Discord e expulsou-o do RaidForums.
O agente enviou um email para "Omnipotent", no endereço "unrivalled@pm. me", dizendo que sabia a sua identidade real. Diogo negou e nunca mais respondeu aos contactos. O português não sabia era que estava a lidar com um agente infiltrado que já tinha confirmado a sua identidade ao FBI.
Em junho de 2018, Diogo Coelho aterrara no aeroporto de Atlanta. As autoridades norte-americanas apreenderam-lhe o computador e o telemóvel. Uma busca aos equipamentos permitiu ligar o português a várias contas e emails suspeitos e confirmar que era ele que estava por trás de pelo menos quatro perfis responsáveis pelo RaidForums.
Numa tentativa de reaver os aparelhos, Diogo contactou o FBI através do endereço "unrivalled@pm.me" e ainda confirmou que usava a alcunha de "Omnipotent". Tinha-se autodenunciado.
Acusado de seis crimes
Diogo está detido no Reino Unido desde 31 de janeiro no âmbito de uma mandado de captura internacional emitido pela Interpol a pedido dos EUA. E aguarda o desenvolvimento do processo de extradição.
As autoridades norte-americanas acusaram-no de seis crimes: cinco de acesso indevido e burla informática - punidos com uma pena de até dez anos de prisão cada - e um de roubo de identidade agravado - punido com dois anos de prisão. No total, Diogo poderá vir a ser condenado a 52 anos de prisão. O processo já foi apresentado a um grande júri que validou a acusação e ordenou a sua extradição para ser julgado em solo norte-americano.
Perfil
Era introvertido e passava os dias fechado no quarto
Em Abraveses, Viseu, onde viveu e cresceu Diogo Coelho, poucos parecem conhecer o jovem e os crimes que o colocaram nos jornais e nas televisões. No bairro onde residiu quase ninguém fala. Nem do que aconteceu a 7 de abril, dia em que a PJ fez buscas na habitação onde viveu o pirata informático. A casa tem vigilância, a campainha está rebentada. Uma vedação impede que se veja para o interior. Quem se aproxima apercebe-se de um cão. A casa estará desabitada desde novembro do ano passado, altura em que o jovem se terá mudado para o Reino Unido, onde estava a mãe. Os vizinhos não se alongam em comentários. Quem aceita falar recorda-se que em miúdo ia a pé para a paragem, onde apanhava um transporte para a escola. Com o passar dos anos, foi ficando mais por casa. Raramente era visto na rua. Alguns vizinhos até suspeitavam que tinha "algum atraso". Na escola era conhecido pelo apelido Coelho. Quem privou com ele diz que não tinha nada de mal a dizer dele, que era introvertido e que passava os dias trancado no quarto.
Raidforums
500 mil piratas
O fórum fundado e administrado por Diogo era um mercado virtual onde os piratas podiam transacionar o acesso a bases de dados roubadas. Tinha 500 mil utilizadores registados.
Lucro de 198 000 €
As autoridades requerem o confisco ao português de, pelo menos, 198 mil euros, o valor, já dado como certo, que terá lucrado com os atos ilegais.
Conta do pai
Antes de passar a usar ´criptomoedas, Diogo tinha uma conta no PayPal em nome do pai e ligada a um cartão de crédito e conta também em nome do progenitor. O FBI registou milhares de transações nesta conta.