Bando juvenil aterrorizava população de Cascais e Sintra com assaltos violentos e sequestros. Judiciária interveio para travar escalada de violência.
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Queriam viver o quotidiano no crime, na violência e não hesitavam em exibir um estilo de vida marginal, em videoclipes de rap, no YouTube. O bando juvenil, autointitulado AKJ, é suspeito de pelo menos 50 assaltos nas zonas de Cascais e Sintra, mas foi esta terça-feira desmantelado pela Polícia Judiciária (PJ) de Lisboa, que prendeu 20 elementos, com idades entre os 17 e os 22 anos.
A base do gangue situava-se numa zona apelidada "T3", no Bairro do Cabeço do Mouro, em S. Domingos de Rana, Cascais. Foi ali que o grupo elegeu o seu refúgio e se reunia para conviver, mas também para combinar assaltos e lutas. De acordo com informações recolhidas pelo JN, desde 2019, os indivíduos perpetraram inúmeros roubos, sequestros e furtos. Para já, a investigação da PJ conseguiu reunir prova para imputar cerca de 50 assaltos ao bando juvenil, mas, agora que este foi desmantelado, esperam-se novas queixas. É que muitas das vítimas não terão participado os crimes às autoridades por medo de retaliações.
Vítimas aleatórias
O gangue atacava sempre em grupo, de cinco ou seis elementos. Regra geral, na via pública, como nas imediações de escolas, usavam armas de fogo, barrotes ou mocas para amedrontar as vítimas, abordadas aleatoriamente. Alguns dos detidos terão roubado colegas de escola. Levavam dinheiro, telemóveis e outros pequenos bens, fáceis de vender nos mercados paralelos.
"A investigação iniciou-se em 2019, na sequência de informações que davam conta da atividade crescente do grupo naquela região, a qual se encontrava a preocupar bastante as populações e a comunidade escolar, sendo que os autores divulgavam vídeos das suas ações nas plataformas do ciberespaço e nas redes sociais, vangloriando-se dos crimes que cometiam e ameaçando as vítimas, caso os denunciassem", explica a PJ, que acredita ter desmantelado um gangue em crescimento, antes de uma escalada de violência.
O bando já andava em lutas de poder pelo controlo de "territórios" nas zonas de Cascais e Sintra. Nos últimos tempos, os AJK terão desafiado, através de redes sociais, outros grupos rivais daquela área da Grande Lisboa para combinar lutas campais.
Esta terça-feira de manhã, cerca de 180 inspetores da PJ de Lisboa e Setúbal avançaram para duas dezenas de buscas, que permitiram a recuperação de vários bens roubados, mas também armas.
Os indivíduos serão na quarta-feira levados ao juiz de instrução do Tribunal de Cascais para serem ouvidos em primeiro interrogatório judicial. Estão previstas fortes medidas de segurança.
Influência
Inspirados no estilo francês e americano
Em vários vídeos disponíveis na plataforma da Internet YouTube, os indivíduos mostravam o estilo de vida, marcado pelo crime e marginalidade. Num deles, um dos detidos, conhecido como "Christian", que canta uma música de rap em língua francesa, desafia grupos rivais a deslocarem-se ao "T3" - zona do bairro do Cabeço de Mouro, em S. Domingo de Rana, Cascais, que garante controlar - para tirar satisfações. Mostrando bastões, catanas ou navalhas, os indivíduos simulam agressões a rivais e dizem-se disponíveis para qualquer tipo de luta, no sentido de ganhar "respeito". Vários indivíduos encapuzados mostram-se, aparentemente, a fumar droga.
Pormenores
Ameaças a polícias
Nas buscas realizadas esta terça-feira por cerca de 180 elementos da PJ, vários detidos terão ameaçado os inspetores de morte, quando estes estavam a proceder à detenção. Apesar das suas tenras idades, são considerados perigosos.
Núcleo duro
O grupo AKJ congrega quatro dezenas de elementos, mas só 20 integram o núcleo duro. Os outros terão intervenções esporádicas. Alguns são menores de 16 anos.
Medidas tutelares
Vários detidos já tinham sido internados, por decisão de tribunais de família e menores, em centros educativos.