Cerca de 300 inspetores da Polícia Judiciária (PJ), acompanhados por 48 peritos e 24 seguranças da PJ, e supervisionados por seis magistrados do Ministério Público e três juízes, estão a realizar buscas em todo o país, no âmbito de uma grande operação de combate ao tráfico de droga.
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Na mira das autoridades estão empresas de canábis medicinal, que estarão a produzir a droga com níveis de THC superiores aos permitidos por lei.
A operação culmina uma prolongada investigação da PJ e teve início pelas 7 horas desta terça-feira. Centenas de inspetores foram para a rua e continuam a realizar várias buscas, em todo o território continental e também nas ilhas. Muitos deles estão a recolher documentos em empresas ligadas à produção de canábis medicinal, suspeitas de alterar o produto final para que este apresente níveis superiores de THC, o principal constituinte ativo desta planta.
A PJ terá indícios de que a planta é modificada para apresentar níveis de THC maiores dos que permitidos por lei e, desse forma, ser consumida por toxicodependentes com uma vulgar droga. No âmbito do plano em prática, as empresas também simulariam a venda da canábis pelo mercado legal, mas a droga nunca chegaria aos clientes que compram o produto para fins clínicos.
No meio do processo, acredita a investigação, a canábis era desviada para ser vendida, a preços muito mais elevados, no mercado negro do narcotráfico.
Mais de 60 buscas na operação “Erva Daninha”
Ao final da manhã desta terça-feira, a PJ confirmou que, através da “Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da Polícia Judiciária (PJ) realizou a operação “Erva Daninha”, na qual deteve vários suspeitos de pertencer a um grupo criminoso dedicado à introdução de grandes quantidades de canábis em vários mercados europeus e africanos, e cumpriu 64 mandados de busca e apreensão de norte a sul do país e, ainda, na ilha da Madeira”.
“Foram, igualmente, cumpridos mais seis mandados de busca em Espanha, um na Bulgária e um outro em Chipre”, lê-se no comunicado.
Compravam empresas farmacêuticas
Segundo a PJ, “a investigação iniciou-se no início de 2022, no âmbito da cooperação policial internacional e em estreita colaboração e articulação com as autoridades policiais e judiciárias da Espanha – Polícia Nacional, na sequência da qual foram apreendidos, numa primeira fase, um total de cerca 1 200 quilos de anfetaminas (3-CMC e 3-MMC)”.
As diligências que se seguiram “permitiram apurar que a organização criminosa em causa, conhecendo as falhas e vulnerabilidades do sistema de fiscalização e controlo de exportações de canábis medicinal em Portugal, adquiria empresas farmacêuticas, depois criava sociedades comerciais licenciadas para o comércio por grosso, importação e exportação de canábis medicinal, acabando, na realidade, por enviar vários milhares de quilos de canábis para mercados ilícitos utilizando documentação e certificados falsos”.
“Perante os indícios recolhidos, e em articulação com o Departamento Central de Investigação e Ação Penal de Lisboa, que titula o inquérito, foram desenvolvidas diversas diligências de investigação, em território nacional e em vários países da Europa, para recolha de prova para pôr termo à atividade ilegal que os suspeitos vinham a desenvolver durante os últimos meses”, descreve a PJ.
Produção de canábis medicinal cresce em Portugal
Dados cedidos ao JN pela Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), em fevereiro deste ano, mostravam que há 37 entidades em Portugal autorizadas a cultivar canábis para fins medicinais. Em 2024, do total de canábis medicinal produzido, mais de 18 mil quilos de foram exportados.
A Alemanha é o principal mercado, seguindo-se Espanha, Polónia e Reino Unido.