Alegada ligação foi descoberta após participação do arguido numa manifestação contra refugiados, em 2015. Julgamento de 27 suspeitos de pertencerem ao violento grupo de extrema-direita decorre em Lisboa.
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A alegada ligação de um guarda prisional ao grupo de extrema-direita Hammerskins, descoberta na sequência de uma manifestação, a 20 de setembro de 2015, contra refugiados, surpreendeu a Polícia Judiciária (PJ), admitiu esta quarta-feira, em tribunal, o coordenador da investigação, Paulo Vaz.
Na primeira sessão do julgamento, a 23 de fevereiro de 2022, o suspeito, João Vaz, garantiu que nunca pertenceu àquela organização bem partilha da sua ideologia. No total, são 27 os arguidos presumivelmente associados aos Hammerskins que se sentam no banco dos réus, por crimes como discriminação racial, religiosa ou sexual, ofensas à integridade física e tentativa de homicídio, por atos, incluindo espancamentos em grupo, praticados na Grande Lisboa, entre 2013 e 2017.
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As vítimas foram negros, homossexuais, muçulmanos, antifascistas e comunistas.
De acordo com o coordenador da PJ, o guarda prisional seria, na altura, um "supporter" (apoiante/simpatizante) da organização e nunca entrara, até então, no radar das autoridades. "Ainda não tinha entrado [nos Hammerskins], mas estava em vias de iniciar os contactos", sublinhou, baseado em diligências posteriores ao protesto, Paulo Vaz.
A manifestação, seguida do espancamento de um militante comunista, marcou, de resto, o início do inquérito que culminou no julgamento iniciado há uma semana, no Tribunal Central Criminal de Lisboa. Apesar de não ter sido liderada pelos Hammerskins, estes terão tido "interesse" em marcar presença na concentração em frente à Assembleia da República, em Lisboa, para tentar ganhar "hegemonia" no seio da extrema-direita portuguesa.
Paulo Vaz sublinhou, ainda, que o grupo, inativo durante um largo período de tempo, começara, em 2013, a recrutar novos membros e a praticar mais ilícitos, em particular no Bairro Alto e no Cais do Sodré, em Lisboa.
Música promovia ódio
Num depoimento que continua amanhã, 3 de março de 2022, o coordenador da PJ reconheceu, ainda, que "não estava" igualmente "à espera" que um dos acusados, baterista e aparentemente sem ligações a movimentos de extrema-direita, tenha atuado mais do que uma vez com uma banda associada aos Hammerskins.
A parceria terá durado cerca de três meses e incluído pelo menos dois concertos e alguns ensaios, estes últimos no quartel-general da filial nacional dos Hammerskins, no concelho de Odivelas.
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"A nossa perceção foi que tinha percebido onde se estava a meter e se tinha afastado, mas já não foi a tempo de não ser constituído arguido", defendeu. Esta quarta-feira, Pedro Guilherme, de 40 anos, alegara que fora apenas um substituto, que nunca prestara atenção às letras racistas e antissemitas das canções e que saíra do projeto por falta de tempo.
O baterista está acusado de um crime de discriminação racial e um de incitamento à violência. Já João Vaz, 39 anos, responde por três crimes de ofensa à integridade física, um de discriminação racial, religiosa ou sexual e um de detenção de arma proibida. Entre os atos de que este está acusado e que nega ter praticado está a participação no espancamento de um militante comunista após a manifestação contra a receção de pessoas refugiadas, em 2015.