Padre Licínio Luís retratou-se no Facebook após encontro com Gouveia e Melo. Na paróquia de Santo André da Charneca toda a gente o admira.
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A Marinha admite recolocar o padre Licínio Luís como capelão, cargo de que havia sido exonerado na terça-feira, na sequência de uma polémica publicação no Facebook em que criticava o Almirante Gouveia e Melo, Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), e defendia os dois fuzileiros envolvidos na rixa à porta da Discoteca Mome, em Lisboa, que resultou na morte do agente da PSP Fábio Guerra.
Na terça-feira, após reunião com o CEMA, Licínio Luís retratou-se no Facebook. "É muito importante reconhecer, perante vós e perante a Marinha, enquanto militar, que errei ao dirigir-me, de forma incorreta, inapropriada e pública ao Almirante CEMA, que respeito pelo seu exemplo de coragem, de serviço prestado e dedicação à Marinha", diz o texto a que o JN teve acesso.
Licínio Luís refere, ainda, que releu o discurso de Gouveia e Melo - em que o CEMA considerou que os acontecimentos já tinham manchado as fardas da Marinha, independentemente do que viesse a ser apurado (...)". "O Almirante CEMA sempre foi um adepto dos Fuzileiros e não tenho dúvidas, agora mais a frio, que tomou a única posição possível e ética ao traçar para toda a Marinha uma linha vermelhas de comportamento", escreveu ainda.
"Nunca foi para a noite?"
No post da polémica, o capelão considerara que "os jovens [Fuzileiros] estavam a divertir-se e foram provocados. (...). Os jovens da PSP estavam no mesmo âmbito e alcoolicamente tão bem dispostos como os nossos". E questionou Gouveia e Melo: "O senhor Almirante nunca foi para a noite? Nunca bebeu uns copos?". A conversa com o CEMA e a retratação pública, podem ter aberto a porta (que nunca esteve completamente fechada) à reintegração.
Admirado na paróquia
Quem conhece Licínio Luís e convive com ele, na paróquia de Santo António da Charneca, no Barreiro, onde o padre está há 25 anos, só mostra respeito e admiração. "Tem uma grande ligação com toda a comunidade, sejam os mais jovens ou os mais velhos. Visita as pessoas isoladas, sabe o nome delas, faz-lhes o almoço e dá uma palavra amiga. É uma fantástica pessoa e excelente padre", diz Tiago Veloso, padre e colega de Licínio na paróquia de Santo André. "Tem um grande coração, até terno demais, ele é grande fisicamente, é gigante e sentimo-nos pequenos ao lado dele, mas acolhe quem está ao seu lado, como um pai", acrescenta.
No ano passado, contam residentes em Santo António da Charneca, Licínio Luís fez uso da sua grande envergadura para ajudar uma família carenciada em Lisboa a reconstruir a casa. "Pôs mãos à obra. Ele é mesmo assim", conta uma moradora próxima do padre.
Truques de fuzileiro
Todas as semanas, o padre Licínio dirige-se ao bairro carenciado da Cidade Sol, no Barreiro, para dar comida e ajudar os mais pobres. Também organiza idas a Fátima e lidera o grupo. "Numa ida fiquei como uma bolha e ele ensinou-me um truque dos fuzileiros: colocar um penso higiénico no sapato onde tinha a ferida e seguimos", conta a catequista Júlia Andrade.
Junto dos mais jovens, Licínio Luís mostra grande dedicação aos escoteiros. "Ele tem uma grande dinâmica nos acampamentos e em caminhadas que organiza, todas as crianças e jovens gostam dele e da forma como aplica tudo o que sabe como fuzileiro, passa muito bem as noções de companheirismo e entreajuda", afirma Júlia Andrade.
Em Santo António da Charneca, toda a população está ao lado do padre exonerado e elogia a sua personalidade. Mas ninguém quer comentar a recente polémica que o envolveu. "Vou rezar por ele", diz uma moradora.