Polícia deteve 30 membros do gangue juvenil que roubava estudantes universitários
Nos últimos sete meses, a PSP deteve 30 elementos de um gangue juvenil que, só no polo universitário do Porto junto ao Hospital São João, roubou cerca de dez mil euros a 40 vítimas. Os dez líderes do grupo, alguns com 16 anos, estão em prisão preventiva ou domiciliária. Os outros, obrigados a apresentações periódicas.
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As duas últimas operações policiais foram realizadas no mês passado e, acreditam fontes policiais contactadas pelo JN, terão dado a machadada final no gangue juvenil que aterrorizava universitários do Campus da Asprela, mas também jovens e turistas que frequentavam a Baixa portuense. Na primeira das diligências da PSP, foi detido um dos elementos do grupo que, em apenas num dia, participou em três roubos no polo universitário. Nas buscas então realizadas foi identificado também um rapaz, de 15 anos, que cometeu os mesmos crimes e levado a interrogatório um terceiro suspeito.
Os polícias conseguiram, na ocasião, apreender um relógio e auriculares subtraídos a uma das vítimas. Já na segunda operação, que teve lugar no final do mês, foi recuperado um telemóvel dado como furtado e detidos mais dois jovens ladrões. Os visados nestas últimas ações policiais viviam em São Pedro da Cova (Gondomar), Carvalhido (Porto) e São Mamede de Infesta (Matosinhos).
Grupo mutável
Tudo contabilizado, a PSP deteve, de dezembro do ano passado até ao final de junho, cerca de 30 elementos do gangue, sendo que dez foram postos em prisão preventiva, logo após a detenção. Com o passar do tempo, alguns foram transitando para prisão domiciliária e há mais 20 suspeitos que continuam obrigados a apresentar-se na esquadra.
Os que têm a liberdade condicionada, apurou o JN, eram os membros mais ativos, intercetados várias vezes pela PSP e que, mesmo assim, mantinham a atividade criminosa. São vistos como os líderes de um gangue heterogéneo, mutável e que agia por impulso para aproveitar a oportunidade.
Fontes policiais referem que alguns dos membros do grupo frequentavam a mesma escola ou estiveram institucionalizados no mesmo centro educativo, na sequência de delitos cometidos. Outros, contudo, não conheciam a maioria dos parceiros de crime, mas eram levados para o gangue por um amigo, já com contactos enraizados no grupo.
Método constante
Era, portanto, num contexto informal que os encontros eram marcados pelas redes sociais ou telefone. Quem queria e podia, aparecia na Estação do Metro da Trindade, pois era ali que os jovens combinavam o local do ataque, que tanto podia ser o Campus da Asprela como a Baixa da cidade.
Depois, sempre em grupo, que nalguns casos não tinha mais de dois elementos, mas que normalmente contava com seis ou mais membros, selecionavam vítimas vulneráveis. Os jovens, quase sempre sozinhos e de aspeto frágil, eram abordados em espaços isolados com pedidos de cigarros ou de um euro, porém viam-se rapidamente rodeados por delinquentes armados com facas que lhes exigiam dinheiro, telemóveis, auriculares, relógios e restantes objetos de valor.
Os que resistiam eram agredidos e muitos foram obrigados a transferir dinheiro através das aplicações do telemóvel. Alguns foram ainda arrastados até ao multibanco mais próximo para levantar o máximo de dinheiro possível. “Houve um episódio em que os assaltantes não tinham conta bancária e telefonaram para um amigo para que este lhes cedesse uma, para a vítima fazer a transferência”, conta fonte ligada ao processo.
A PSP contabilizou cerca de dez mil euros roubados a perto de 40 vítimas, só no polo da Asprela. A estes números somam-se os turistas e jovens assaltados na Baixa da cidade.
“A presença regular da PSP é essencial para garantir a segurança”
Entrevista a Francisco Porto Fernandes, presidente da FAP
O número de assaltos a alunos na zona universitária continua a preocupar ou sente que houve uma diminuição? O campus está, hoje, mais seguro?
A segurança dos estudantes é uma prioridade para a Federação Académica do Porto (FAP). Embora exista a perceção de insegurança que se acentuou com os acontecimentos registados no início do ano, têm sido feitos esforços contínuos por parte das autoridades para garantir que os campus universitários sejam um espaço seguro e acolhedor para todos os estudantes das instituições de ensino superior do Porto. Ainda assim, queremos mais iluminação, videovigilância e acima de tudo policiamento de rua.
Ainda há grupos de jovens a rondar o campus universitário com o objetivo de roubar os alunos?
Até ao momento, não temos indicação de que se tenha verificado um aumento dos novos casos ou de que exista qualquer atuação organizada nesse sentido.
O policiamento da zona universitária foi reforçado ao longo dos últimos meses?
As autoridades dizem ter reforçado o policiamento na zona universitária, mas penso que é ainda insuficiente.
Além de polícias na rua, que outras medidas são necessárias para manter a segurança?
A presença policial visível é fundamental, mas deve ser acompanhada por outras medidas complementares. A melhoria da iluminação pública, a instalação de videovigilância em pontos estratégicos e o reforço da articulação entre instituições de ensino superior, forças de segurança e autarquias são alguns dos passos importantes.
Teme que, com o desmantelamento do grupo, haja menos policiamento e que os assaltos regressem?
A segurança pública deve assentar numa lógica de continuidade e prevenção, e não apenas em respostas reativas. O desmantelamento de grupos criminosos é um passo positivo, mas não deve conduzir à redução do policiamento. A presença policial regular é essencial para garantir que a zona universitária se mantenha segura e que os estudantes possam circular tranquilamente, particularmente nos trajetos de entrada e saída das escolas e faculdades.