A chefe do Núcleo de Psicologia Clínica da PSP lamentou, esta sexta-feira, que nem sempre os polícias agredidos em funções e que fiquem com "uma nuvem negra por cima de si" sejam encaminhados para ajuda. Preocupada com o "contágio" que este abandono possa ter, Matilde Fernandes defendeu uma maior aposta na prevenção.
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A intervenção da psicóloga clínica da PSP ocorreu esta manhã durante a conferência subordinada ao tema da "saúde mental nas forças de segurança: stress, burnout e suicídio", que decorre na Fundação Luso-Americana, em Lisboa.
"A vitimação policial é o meu projeto mais querido que, digamos assim, não consigo fazer que ele avance efetivamente. O despacho da vitimação policial existe desde 2011. E desde 2011 que está preconizado que sempre que haja agressões a um elemento policial ele seja referenciado para o Gabinete de Psicologia. Não porque ele não está bem, não porque ele não tem capacidade, mas é uma consulta no âmbito da higiene do trabalho, ou seja, vamos só falar um pouquinho, vamos perceber que impacto é que isto teve e o que é expectável que aconteça", frisou a psicóloga.
Salientando o impacto que as agressões têm nos polícias e nas suas famílias, que também sofrem, a responsável da PSP frisou que é necessário apostar na prevenção, para que não se venha a instalar, "mais à frente, uma situação de stress pós-traumático".
"E isto é muito importante para os elementos alvo de agressões que, de alguma forma, têm ali uma situação ou um evento com um impacto extremamente oneroso naquilo que nós chamamos de rotura psíquica, porque há um antes e um depois deste evento. E isto tem de ser enquadrado. Ao não ser enquadrado, aquilo que nós deixamos é o elemento abandonado. Para eles, sozinhos, pedir ajuda é difícil", afirmou.
Matilde Fernandes exemplificou com o caso de um programa de prevenção existente na Esquadra Moto da Divisão de Trânsito de Lisboa no qual, "sempre que existe um suicídio e há contacto do elemento policial com o suicida na ponte [25 de Abril], ele é reencaminhado para uma consulta de triagem. "Basicamente é uma consulta de ventilação", explicou.
Alertando que essa ajuda pode ser procurada internamente ou junto do centro de saúde, "se sentirem que não confiam na Divisão [de Psicologia]", não podem é ficar sem apoio se não estiverem bem, salientou.
"Eu sei que todas as questões operacionais associadas a estes eventos ocupam muito espaço na cabeça dos comandantes, mas é essencial que esta vertente possa ser alvo de cuidado. Porque é a diferença entre termos um elemento que chega à reforma em bom estado e um elemento que, a meio da sua carreira, começa a desmotivar. Isto tem efeito de contágio. Sempre que nós temos um elemento com uma nuvem negra por cima de si, não é só um elemento, são uns quantos que andam à volta", concluiu.