Reunião entre elementos da PJ Militar e da GNR, em Loulé, sobre assalto em Tancos foi fotografada pela PJ civil, mas visados detetaram a monitorização. Fizeram queixa à PGR.
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Perceberam que eram um alvo da Polícia Judiciária (PJ), com vigilâncias e colocação de um localizador num veículo militar e, por isso, alguns arguidos que viriam a ser detidos por causa da recuperação do material de Tancos passaram também a "vigiar" a PJ civil. Um dos casos aconteceu nove meses antes das detenções, à porta da GNR de Loulé, onde os inspetores da PJ foram apanhados a fotografar e a ouvir, com escutas ambientais, as conversas dos elementos da Polícia Judiciária Militar (PJM) e do Núcleo de Investigação Criminal (NIC) da GNR. Os incidentes criaram um ambiente de "alta tensão".
De acordo com informações recolhidas pelo JN, em janeiro deste ano a PJ já tinha fortes suspeitas de que a recuperação, três meses antes, do material de guerra furtado em Tancos, se tratara de uma encenação executada pelos próprios polícias militares. Por isso, a PJ montou dispositivos de vigilâncias aos militares.
Mas, ao que tudo indica, por estarem habituados a ações de vigilância, os visados detetaram os inspetores em plena ação, chegando a fazer averiguações para saber quem os vigiava, e informaram a hierarquia de que eram um alvo da PJ.
Militares fotografaram PJ
A 11 de janeiro, um major e um sargento da PJM do Porto deslocaram-se à GNR de Loulé para uma reunião de trabalho com os elementos do NIC daquela unidade. Quando ainda estavam à porta do destacamento, já com elementos do NIC, aperceberam-se de que estavam a ser fotografados por dois indivíduos, escondidos num carro estacionado a poucas centenas de metros.
Desconfiados de que também existiram escutas ambientais, decidiram também usar, dissimuladamente, uma máquina fotográfica para ficar com um registo da viatura. Obtiveram, assim, a matrícula e apuraram que era da PJ.
Ainda segundo o JN apurou, os militares decidiram então realizar manobras de despiste, para verificar se eram ou não seguidos. Terão circulado durante algum tempo, para verificar se o carro da PJ os seguia, e terão chegado mesmo a ir jantar, sempre sob o olhar atento dos inspetores civis. As dúvidas foram todas dissipadas, ao ponto de os visados terem informado as respetivas hierarquias de que estavam a ser monitorizados pela PJ.
Na véspera deste incidente, o mesmo investigador da PJM que detetou o carro da PJ em Loulé viu dois indivíduos encostados ao seu carro e, pensando que estes estavam a assaltar-lhe a viatura, decidiu abordá-los.
Os "intrusos" apresentaram-se como inspetores da PJ e disseram estar em serviço. O caso não ficou por aqui, porque, ao que apurámos, o incidente também foi reportado à hierarquia da PJM, com indicações para que fosse informada a Procuradoria-Geral da República. Instalou-se a desconfiança de que estaria a ser colocado um localizador na viatura.
A situação terá sido descrita pelos militares como de alto perigo, porque pensaram que se tratava de um assalto e estavam armados, tal como os elementos da PJ.
O JN apurou que os dois relatos de tensão entre PJM e PJ chegaram ao coronel Luís Vieira. Mas não é certo se a informação foi mais alto na hierarquia militar.
Uma proposta do CDS, para que seja criada uma comissão de inquérito sobre o furto do material militar de Tancos, destinada a apurar eventuais responsabilidades políticas do caso, vai ser aprovada no próximo dia 24, em plenário da Assembleia da República. A garantia da criação da comissão de inquérito reside no facto de PS, CDS e PSD darem o aval para avançar com as investigações, contando com a abstenção dos deputados do Bloco de Esquerda. O "sim" fica assim em maioria. Ontem, à hora de fecho desta edição, ainda não era conhecida a intenção do PCP.
Parlamento
Luz verde para comissão de inquérito
Uma proposta do CDS, para que seja criada uma comissão de inquérito sobre o furto do material militar de Tancos, destinada a apurar eventuais responsabilidades políticas do caso, vai ser aprovada no próximo dia 24, em plenário da Assembleia da República. A garantia da criação da comissão de inquérito reside no facto de PS, CDS e PSD darem o aval para avançar com as investigações, contando com a abstenção dos deputados do Bloco de Esquerda. O "sim" fica assim em maioria. Ontem, à hora de fecho desta edição, ainda não era conhecida a intenção do PCP.