Mais do que pôr água na fervura, as declarações do ministro da Administração Interna, que neste domingo classificou como "atos de indisciplina e insubordinação" as baixas médicas apresentadas pelos polícias nos últimos dias, acicatou os ânimos entre os elementos das forças de segurança.
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Em comunicado, a Plataforma dos Sindicatos da PSP e das Associações da GNR denuncia “um ataque pidesco ao sindicalismo na PSP” e refere que a “ameaça” de José Luís Carneiro poderá instigar episódios ainda mais graves.
“A luta dos elementos das forças de segurança vai continuar, esperamos que dentro dos limites legais, no entanto, após a conferência de imprensa do senhor ministro da Administração Interna e a falta de reconhecimento da necessidade negocial, face à situação criada por este Governo, importará alertar uma vez mais, que qualquer ocorrência grave será unicamente da responsabilidade do Governo”, afirmam os polícias.
No mesmo comunicado, a Plataforma começa por “manifestar veementemente o seu desagrado e descontentamento com as declarações” do governante. “Para além de umas palavras que não espelham de todo o ideal da democracia, nem são juridicamente sustentáveis, fugindo claramente ao cerne do problema dos polícias da PSP e militares da GNR, é inadmissível o ataque pidesco ao sindicalismo na PSP, que procura coartar a liberdade de expressão”, sustenta.
Depois, a Plataforma acusa José Luís Carneiro de instaurar inquéritos apenas para concluir aquilo que pretende: provar que as baixas médicas apresentadas pelos polícias afetos ao jogo de futebol adiado em Famalicão foram atos de indisciplina e insubordinação. “Não nos parece muito democrático nem juridicamente aceitável que com a abertura de inquéritos legítimos se precipitem corresponsabilizações preliminares, assumindo-se de forma autoexplicativa que há responsabilidade, culpa e infração por parte dos polícias. Está a abrir-se um inquérito que tem na sua génese uma decisão enviesada e inquinada. Releva-se a adjetivação infeliz de insubordinação gravíssima, assumindo que não se quer saber do resultado do inquérito, esquecendo o trabalho realizado pelas forças de segurança ao longo de décadas”, acusa.
Ameaça do ministro
Os representas dos polícias afirmam ainda que as declarações de Armando Ferreira, presidente do Sindicato Nacional da Polícia, que antecipou um protesto durante as próximas eleições legislativas, “em momento algum pretenderam constituir uma ameaça”.
“Pretendeu alertar para uma hipotética situação que deve ser equacionada por quem dirige o país, considerando a importância vital que o ato eleitoral representa num estado de direito democrático, e cuja realização não deve ser perturbada, querendo as forças de Segurança cumprir devidamente a sua missão. A ideia é a de alertar, porque as formas de protesto podem escapar ao controlo daquilo que é a esfera dos sindicatos/associações”, explicam.
Por último, a Plataforma recorda que, “já no passado, o atual primeiro-ministro, então ministro da Administração Interna, tentou condicionar a atividade sindical de um profissional da PSP, expulsando-o da organização. “Os profissionais das forças de segurança esperavam muito mais do Governo. Hoje receberam do senhor ministro da Administração Interna um claro sinal de ameaça. Se a irresponsabilidade do Governo já era gritante ao longo deste processo, hoje, mais do que nunca, é notória a incapacidade política, a falta de preparação e, sobretudo, o esgotar da legitimidade e do reconhecimento enquanto tutela, desta que é das mais importantes pastas de um Governo”, frisa.