Portuguesa angariou dezenas de compatriotas para “casamentos brancos” no Chipre
Dezenas de mulheres portuguesas foram recrutadas por uma rede criminosa internacional que organizou, pelo menos, 130 casamentos fictícios, no Chipre. Os chamados “casamentos brancos” permitiram que os noivos, de origem indostânica, entrassem e circulassem livremente pela Europa.
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Na segunda-feira, uma angariadora da organização, de nacionalidade portuguesa, foi detida pela Polícia Judiciária (PJ) na Margem Sul da Grande Lisboa, no âmbito de uma operação coordenada pela Europol e que terminou com 15 detenções.
Segundo o JN apurou, era esta portuguesa – de 44 anos e descrita pela Europol como um “alvo de alto valor” e membro importante da organização - que convencia as mulheres a entrar no esquema criminoso e a viajar para o Chipre, onde casavam, sem nunca terem visto os futuros maridos, em conservatórias civis de cidades como Aradippou, Livadia e Nicósia.
Após o casamento, as noivas despediam-se dos parceiros, regressavam a Portugal, mas teriam de voltar ao Chipre, meio ano depois, para assinar os papéis de divórcio presencialmente, em espaços oficiais.
Em casos semelhantes ao agora divulgado pela Europol, e que também envolveram portuguesas, as mulheres receberam entre 1500 e 2000 euros pela participação no esquema criminoso. A mesma quantia terá sido paga às portuguesas que aceitaram participar nos casamentos fictícios descobertos pela atual investigação.
Os mais de 130 “casamentos brancos” contabilizados pela investigação liderada pelas autoridades do Chipre foram essenciais para que muitos homens oriundos da Índia, Bangladesh e Paquistão tivessem obtido nacionalidade portuguesa e, com o novo passaporte, passassem a viver e a percorrer todo o Espaço Schengen de forma legal.
Angariadora aceitou extradição para o Chipre
A angariadora portuguesa foi detida pela PJ, na última segunda-feira, no cumprimento de um mandado de detenção europeu e, sabe o JN, já aceitou ser extraditada para o Chipre para aí ser acusada e julgada. A investigação prossegue para apurar se a mulher tinha cúmplices a trabalhar em Portugal.
Ao mesmo tempo que a portuguesa era detida, outros 14 membros da rede criminosa eram, igualmente, apanhados pelas autoridades do Chipre e da Letónia, país onde também eram angariadas mulheres para os casamentos fictícios. Quatro dos detidos são considerados os “cérebros” do esquema urdido.
A Europol suspeita que a rede criminosa desmantelada se dedicava ainda à “lavagem de dinheiro”, à venda de documentos falsos e ao auxílio à imigração ilegal.