Direção de estrutura do Cerval disputada por dois grupos. Contas bancárias congeladas e aluguer por pagar são algumas das questões.
Corpo do artigo
A direção do Aeroclube do Cerval, que há 30 anos geria o aeródromo com o mesmo nome situado no limite entre Vila Nova de Cerveira e Valença, é disputada por dois grupos de sócios, numa "guerra" que chegou aos tribunais.
Entretanto, nasceu um novo aeroclube, o do Alto Minho que passou a gerir o equipamento e quer dar um impulso à atividade. Diz pretender acabar com ilegalidades, registando, para isso, os hangares e proibindo voos sem licença e em aviões sem matrícula. Daí que estes pilotos se digam "legalistas" apelidando os outros de "ilegalistas".
A disputa vem de 2021 quando 21 sócios - maioritariamente pilotos espanhóis - convocaram uma assembleia-geral e destituíram a direção, elegendo outra presidida pelo alemão radicado em Caminha, Jorge Steyer. Essa reunião, diz este piloto, foi "certificada" por uma notária. Só que, quando quis assumir a gestão do local (dividido em duas áreas, a dos hangares, situada num terreno dos baldios, e a pista, propriedade dos municípios), a direção cessante não entregou as chaves, alegando que "apenas quatro sócios tinham quotas em dia pelo que a assembleia foi ilegal".
Outros 51 associados convocaram nova assembleia, que destituiu a nova direção. As contas bancárias foram bloqueadas, alegadamente a pedido de Jorge Steyer, o que levou a que não fosse pago o aluguer do espaço aos compartes do baldio de Cerval. E o acesso ao local chegou a ser fechado.
O caso seguiu para o tribunal local e para o da Relação de Guimarães, que, em dezembro, determinou a execução da posse da direção de Jorge Steyer, que diz que isto vai acontecer dentro de dias. Mas a outra fação sublinha que a decisão final acontece em março no Tribunal de Viana do Castelo.
Novo clube
Face ao diferendo, o clube do Alto Minho falou com os compartes do baldio, que rescindiram o contrato com o do Cerval, e fizeram novo contrato para alugar e gerir o espaço. O seu presidente, Carlos Alberto da Silva, disse ao JN que o grupo liderado por Jorge Steyer queria continuar sem legalizar os hangares, para não pagar contribuições de alugueres e outras atividades rentáveis. "Agora tudo tem de ser legalizado na Câmara e só voa quem tem licença e em aviões matriculados", garante.
Ao JN, Steyer nega o rótulo de "ilegal". "Agora há condições para legalizar os hangares e vamos fazê-lo", disse, assegurando que vai revogar o contrato que os compartes assinaram com o novo clube. Reclama ter "legitimidade" porque foi eleito numa assembleia legal, o que não sucedeu com a seguinte. "Há um grupo que parece não querer que os pilotos galegos partilhem da gestão de um espaço onde foram eles que investiram", lamenta.
Acordo com Universidade do Minho
A Universidade do Minho e o Aeroclube do Alto Minho têm um acordo de colaboração que visa o desenvolvimento da aeronáutica. Já em fevereiro os alunos de Engenharia Aeroespacial fazem experiências de voo em aeronaves ligeiras e lidam com questões operacionais e meteorológicas.
Em janeiro, foi criada a Associação Aeródromo Alto Minho/Galiza, com o Instituto Politécnico de Viana do Castelo, os municípios de Vila Nova de Cerveira e Valença e a Confederação Empresarial do Alto Minho.
Pormenores
30 anos
O aeródromo de Cerval nasceu há 30 anos a partir de uma pista para combate a incêndios. As câmaras já pediram a certificação para o nível 1 (aeronaves maiores).
60 aviões
O espaço acolhe 60 aviões, a maioria deles ultraleves, e tem outros tantos pilotos. E tem 14 hangares. É um dos maiores do país na aeronáutica amadora.
Aeroclube Meteoro
Os pilotos galegos, membros do Aeroclube Meteoro, da zona de Vigo, vieram para o Cerval e os dois clubes fundiram-se. Ambas as fações negam que a disputa seja "antiespanhóis" e "antiportugueses".