PJ deteve funcionário da Caixa de Crédito de Carrazeda de Ansiães. Tinha lista com mais de 100 lesados. Vítimas são idosos e ex-emigrantes.
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Um bancário da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo (CCAM) de Carrazeda de Ansiães foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) de Vila Real por se ter apropriado das poupanças de largas dezenas de clientes ao longo dos últimos dez anos. A PJ já apurou perdas de 1,8 milhões de euros, mas suspeita que o montante desviado das contas dos lesados, que eram, maioritariamente, idosos e ex-emigrantes sem literacia financeira, pode chegar aos cinco milhões de euros.
António José Matos, de 51 anos, está indiciado por crimes de falsificação de documentos, abuso de confiança e burla qualificada. Foi ontem presente a um juiz de instrução em Vila Flor, mas as respetivas medidas de coação só devem ser conhecidas nesta quinta-feira.
O bancário ter-se-á aproveitado da relação de confiança que mantinha com os clientes para os convencer a investirem em aplicações financeiras de alta rentabilidade, com juros que chegavam aos 5%. O dinheiro estava em normais depósitos bancários e resultava, em muitos casos, das poupanças de uma vida de trabalho em França, no Luxemburgo, no Canadá.
Falsificações para sossegar
Obtido o acordo das vítimas para os alegados investimentos, o arguido ficava com o domínio das contas dos clientes e apropriava-se dos respetivos montantes, contou ontem a PJ, explicando que, "para evitar que as vítimas se apercebessem da situação, emitia e entregava-lhes um documento falso, que pretendia representar o depósito dos montantes que lhe haviam sido confiados numa aplicação financeira". Para o efeito, usava aplicações efetivamente comercializadas pela CCAM da Terra Quente, como se denomina o balcão de Carrazeda.
O montante apurado de 1,8 milhões é a soma dos valores subtraídos a duas dezenas de clientes que formalizaram queixa. Mas as autoridades fizeram buscas que lhes permitiram encontrar uma lista de lesados com cerca de 100 nomes. O valor total das burlas poderá ascender a cerca de cinco milhões de euros. O bancário mantinha aquela lista e uma contabilidade própria para responder da melhor maneira possível aos clientes que iam ao banco perguntar-lhe pelas suas poupanças.
A PJ ainda não terá apurado o destino dado a todo o dinheiro. É certo que o suspeito foi dono de uma frota de automóveis e vivia numa moradia avaliada em cerca de meio milhão com Elsa Samões, uma política local que, com o conhecimento público do caso, se separou do marido e abdicou dos cargos de vereadora e de presidente do PS de Carrazeda de Ansiães. Mas a PJ investiga ainda a possibilidade de o arguido ter escondido os proveitos do crime em contas offshore.
Há ainda outra pergunta importante sem resposta: como pôde o bancário, que alguns lesados tratavam por Tozé, não levantar suspeitas dentro da Caixa de Crédito? Segundo informações recolhidas pelo JN, só de uma vez, Matos levantou, em dinheiro, à boca da caixa, 100 mil euros da conta de uma idosa e teria necessariamente de justificar o levantamento de tal importância.