Preços do sofrimento. Vítimas de abusos na Igreja criticam cálculo de compensações
A associação Coração Silenciado que reúne vítimas de abusos sexuais cometidos por membros da Igreja Católica em Portugal critica a forma como a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) quer pagar compensações financeiras e exige que todas as vítimas recebam um valor igual ao sofrimento causado.
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“Em vez de estar a ser pesado o sofrimento de cada um para saber quem sofreu mais e, por causa disso, tenha direito a um valor maior, o mais justo seria um valor igual para todos e quem se sentisse lesado podia recorrer aos tribunais”, afirmou um membro da direção ao JN.
“É para nós uma questão de humanização e não uma questão burocrática ou de cálculos profissionais da 'qualidade' dos traumas”, refere, em comunicado, a entidade que esta quarta-feira, reuniu em Coimbra com os responsáveis da CEP.
De acordo com o Grupo Vita, que coordena o processo, cada vítima que deseje ser compensada financeiramente tem até ao dia 31 de dezembro para enviar uma carta onde expõe a sua situação. Caberá depois a uma comissão avaliar se a vítima deve ou não receber algum dinheiro e qual a quantia que lhe deve ser atribuída. É esta forma de avaliar o sofrimento que o Coração Silenciado rejeita.
“É preciso evitar, de uma vez por todas, a revitimização dos sobreviventes, o remexer nas memórias, pois o processo determina que cada sobrevivente tenha de redigir uma carta a indicar o abuso que sofreu, quando isso já consta no processo de denúncia”, refere o comunicado, salientando ainda que, ao ter que “justificar à nova comissão, criada para avaliar o impacto que o abuso teve nas nossas vidas, seremos então mais um número sem rosto, sujeitos a uma tabela de preços do sofrimento”.
Sobre o trabalho da Comissão Independente (CI), a direção da associação refere, no mesmo documento, que lhes foi confirmado que” do relatório da CI, foram extraídos e destruídos todos os dados pessoais”. “É frustrante sabermos que todo o trabalho da CI não tinha como objetivo ajudar e acompanhar as vítimas, mas tão somente recolher dados/testemunhos para conhecimento da realidade pretérita e para estatística”, finaliza.