
Ferenc Isza / Getty Images
Denúncia feita pela diretora da entidade que defende hacker. Ana Gomes visitou-o na cadeia e diz que teve total abertura da ministra da Justiça para aceitar pedidos de cooperação de procuradores franceses.
"A informação revelada e publicada nos meios de Comunicação levou nove países a abrirem processos de investigação. Há procuradores a trabalhar e a perseguir verdadeiros criminosos. E é importante que a colaboração continue. Mas a questão é que terminou desde que foi detido em Portugal. Os procuradores não conseguem falar com ele. O facto de estar preso fez parar a investigação de nove países", alertou Delphine Halgand-Mishra, diretora-executiva da "The Signals Network", organização de proteção de "whistleblowers" (denunciantes) que apoia e suporta os custos da defesa de Rui Pinto.
11119161
A representante da organização acompanhou, na terça-feira, Ana Gomes, ex-eurodeputada, e Eva Joly, magistrada francesa, numa conferência de Imprensa, em Lisboa, sobre o caso que mantém o hacker detido por indícios da prática de seis crimes, tendo como contraponto a exposição massiva de documentos pirateados por Rui Pinto e designada como Football Leaks. Um encontro que decorreu já depois de visitar o pirata informático e de reunir com a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem.
A audição serviu para apresentar alguns "detalhes do caso, contradições" e escutar o apoio da governante na colaboração judicial. "A ministra da Justiça foi muito clara. Se as autoridades francesas pedirem, podem vir e obter a cooperação de Rui Pinto", sustentou Ana Gomes, assegurando que uma fração da informação está já na mão dos procuradores, obtida através das autoridades húngaras. "Parte dos dados pode estar disponível, sem encriptação e partilhada, mas outra só pode ser explorada com a sua cooperação", acentuou.
Recorde-se que Rui Pinto aceitou colaborar e já foi ouvido como testemunha pelo Parquet National Financier, equipa de magistrados franceses especializados em crimes de colarinho branco, tal como o JN noticiou.
Ana Gomes recebeu ainda garantias de que o Estado trabalha na transposição da diretiva que protegerá os denunciantes e assume ter enfatizado, junto da responsável, que a legislação comunitária sobre branqueamento de capitais já defende os informadores e devia aplicar-se a Rui Pinto.
A antiga eurodeputada voltou a visitar o pirata, que se revelou "indignado" e "mal impressionado" com os juízes da Relação já que, no seu entender, "reproduzem basicamente" o pedido do Ministério Público no documento que confirmou a extensão da sua prisão.
A responsável transmitiu ainda que o hacker está "preocupado por ver a Polícia ou o MP pôr cá fora informação sobre documentação que, de alguma maneira, alerta as entidades que estão a ser objeto de investigação". "Disse estar particularmente indignado por saber que as autoridades portuguesas estão neste momento a convidar pessoas, representantes da Doyen, o próprio Ronaldo, a pedir compensação por eventuais danos de divulgação de informação que lhe pudesse ser atribuída", revelou Ana Gomes.
Saiba mais
Sem contacto pela EDP
A possibilidade do MP utilizar a informação na posse de Rui Pinto no "caso EDP", noticiada na Imprensa, não terá tido ainda qualquer repercussão. "Perguntei-lhe se existira alguma abordagem e a resposta foi negativa", disse Ana Gomes .
Milhões recuperados
A informação revelada por Rui Pinto já terá permitido recuperar 35 milhões de euros, segundo a "Signal".
Defesa custou 15 mil
A defesa de Rui Pinto é custeada pela "Signal", que terá já suportado cerca de "dez a 15 mil euros", de acordo com a sua responsável.
