Um operário da construção civil reformado por invalidez é suspeito de atear pelo menos dezena e meia de fogos florestais, entre Vila Verde e Ponte da Barca, durante o regresso a casa depois de levar a esposa ao local de trabalho. Trata-se de um incendiário compulsivo que o fazia sem qualquer razão e já está em prisão preventiva.
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Nuno Filipe, de 36 anos, residente na freguesia de Atães, Vila Verde, não prestou declarações ao juiz de instrução criminal da Comarca de Vila Verde que o ouviu na tarde desta quarta feira.
O método descoberto pela Polícia Judiciária (PJ) de Braga, que o deteve na segunda-feira, fora de flagrante delito, era sempre o mesmo. Amarrotava lenços de papel, colocando-os a arder entre a folhagem seca ou espetados em silvas, para garantir vários focos de incêndio.
Por não ter antecedentes criminais conhecidos, o trabalho da PJ foi mais difícil, mas através das vigilâncias e seguimentos, a par de outros vestígios que foram recolhendo, os inspetores perceberam que o suspeito se deslocava num Opel Vectra negro, de Atães (Vila Verde) para Cuide de Vila Verde (Ponte da Barca). Os fogos eram sempre ateados em localidades próximas da sua residência.
A PJ, com a colaboração da GNR e do comandante dos Bombeiros Voluntários de Vila Verde, Luís Morais, foi encontrando um fio condutor entre os fogos que conduziram ao operário reformado, faltando agora apenas determinar o número exato de fogos que ele ateou.
Os 15 crimes que lhe são atribuídos entre os dias 23 de agosto e 2 setembro são classificados pela PJ, em comunicado, como "uma onda simultânea de incêndios florestais, anormal e nunca vista na região, causando o pânico entre as populações locais" e mobilizando um elevadíssimo número de meios necessários para o seu combate.
"Além dos bombeiros de Vila Verde, aos incêndios acorreram corporações de bombeiros vindas de Amares, Barcelos, Barcelinhos, Viatodos, Braga, Terras de Bouro, Vizela e Vieira do Minho, estando no teatro de operações, no pico dos incêndios, um total de 160 operacionais, apoiados por cerca de 50 viaturas e sete meios aéreos", assinalou a PJ.
"Apesar deste enorme dispositivo de combate, a ocorrência de vários incêndios consecutivos e distantes uns dos outros, obrigou a uma grande dispersão de meios, situação que colocou em perigo várias residências, pela dificuldade de alocação de meios para as proteger com a rapidez necessária", acrescenta a PJ de Braga.
"Embora não exista ainda uma estimativa real da área consumida pelos incêndios, ultrapassará os 300 hectares de floresta, constituída principalmente por eucaliptos, pinheiros e mato e vários locais onde os incêndios ocorreram situam-se em zonas com condições de propagação a manchas florestais de grandes dimensões, gerando enorme risco", diz ainda a PJ.
Para além disso, a Judiciária destaca que o risco era "potencialmente alimentado pela carga combustível ali existente e pela orografia própria da região, que se traduziu em elevadíssimo perigo concreto para as pessoas, para os seus bens patrimoniais e para o meio ambiente".