Cônjuges e filhos de elementos da GNR e da PSP garantem que a atividade tem impacto negativo na vida social e familiar. Ninguém quer que crianças sigam a carreira dos pais.
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Perto de 90% dos ex-companheiros e filhos de polícias divorciados consideram que a profissão foi “fator preponderante” para uma separação. E quase todos não querem que os filhos sigam os passos dos pais como elementos das forças de segurança. Os turnos, a distância do local de trabalho e os baixos salários são os motivos apontados para o impacto negativo que a profissão tem na vida social e familiar. E também na saúde mental dos próprios polícias.
Os dados constam “no maior e mais abrangente” estudo feito em Portugal sobre esta temática. Promovido pela Unidade de Investigação e Desenvolvimento, do Sindicato Independente de Agentes de Polícia (SIAP), em agosto do ano passado, “Ser Polícia em Portugal: Impactos na Família” contou com a participação de 4115 familiares de membros da PSP e GNR e as suas conclusões fizeram soar os alarmes. “Olhamos para uma esquadra e vemos que três ou quatro polícias são divorciados. Mesmo assim, os resultados do estudo são surpreendentes”, refere o coordenador da investigação, Miguel Rodrigues. Pós-doutorado, mas também chefe da PSP, Rodrigues salienta que mais de 94% dos familiares de polícias inquiridos concordam que esta profissão “teve um impacto negativo na vida social e familiar” e mais de metade considera que, com o acumular de anos de carreira, o polícia foi ficando mais infeliz, nervoso, instável, stressado e mal-humorado.
Quase todos os cônjuges e filhos (95%) dos polícias também não têm dúvidas de que a atividade profissional impediu um dos pais de “estar mais presente” na criação das crianças, o que, para mais de metade dos participantes do estudo, acabou por afetar o rendimento escolar dos filhos.
Tudo somado, mais de 94% dos familiares de polícias não gostariam que os filhos optassem por uma carreira na PSP e na GNR. E 89% consideram que o facto de um dos elementos do casal ser polícia “foi fator preponderante para o divórcio/separação da família”. Esta percentagem foi calculada com base nas respostas dos 962 inquiridos que integram uma família destruída.
Longe do coração
“O facto de um polícia passar muitos anos longe da família leva a uma quebra efetiva. Muitos polícias evitam ir a casa, mesmo quando dispõem de tempo livre, por questões monetárias”, lembra Miguel Rodrigues, diretor da Unidade de Investigação e Desenvolvimento do SIAP.
Além da distância entre a casa e o local de trabalho – recorde-se que a maioria dos agentes permanece, pelo menos, dez anos no Comando Metropolitano de Lisboa –, os familiares dos polícias apontam o horário por turnos e o baixo salários como motivos para o fim de um casamento.
Auxílio
194 pedidos de ajuda
Em três anos, 194 agentes e oficiais da PSP solicitaram acompanhamento psicológico. O número de pedidos de ajuda foi diminuindo de 2022 para 2024.
32 psicólogos clínicos
A Divisão de Psicologia da PSP tem 32 psicólogos em “diversos locais destinados ao apoio”. Sem avançar um número, a GNR diz “ter reforçado o número de psicólogos e de psiquiatras”