Prostitutas roubadas e agredidas. “Gritei por socorro e deu-me uma pancada na cabeça com o revólver”
Uma prostituta contou, esta terça-feira, em tribunal, que foi roubada e agredida com uma arma de fogo, num apartamento onde residia e atendia clientes, na Areosa, no Porto. Terá sido uma das cinco vítimas dos assaltos pelos quais estão a ser julgados cinco jovens. Um deles é um antigo treinador de futebol do Leixões.
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Os cinco arguidos, de idades entre os 20 e 29 anos, são acusados de cinco crimes de roubo agravado, detenção de arma proibida e falsificação de documentos, cometidos entre junho e dezembro de 2023, nos concelhos do Porto e de Gaia.
Os suspeitos estabeleciam contacto com as prostitutas, várias de nacionalidade estrangeira, através do WhatsApp, e marcavam encontros sexuais para obter acesso aos apartamentos das vítimas. Depois, deixavam entrar os cúmplices e forçavam as mulheres a entregar-lhes dinheiro. Atuavam armados e, por vezes, com grande violência.
"Apertou o meu pescoço e tapou a minha boca"
Camila aceitou o encontro marcado nessa mesma noite por WhatsApp, mas, quando abriu a porta do seu apartamento na Areosa, em vez de um cliente, encontrou um ladrão. “Apertou o meu pescoço e tapou a minha boca. Depois, segurou o meu braço, abriu a porta e entraram três ou quatro rapazes muito jovens”, contou a acompanhante de 30 anos, esta manhã, no Tribunal de S. João Novo, no Porto.
“Levou-me para o quarto e procurou dinheiro. Encontrou 70 euros num armário, mas queria, mais. Comecei a gritar por socorro e um deles deu-me uma pancada na cabeça com um revólver. Quando viram que não tinha mais dinheiro, foram embora”, contou. Em tribunal, Camila não conseguiu identificar cabalmente nenhum dos ladrões. “Há um [dos arguidos] muito parecido, mas estava de rosto tapado”, explicou.
Também um homem e uma mulher que estavam presentes num outro roubo, em Gaia, tiveram dificuldades em reconhecer os assaltantes. Clayton, 35 anos, explicou que estava no quarto com uma amiga e ouviu gritos da mulher com quem dividia o apartamento. “Corri até à porta e vi uma pessoa encapuçada com uma arma apontada a mim. Fechei a porta e tranquei-a. Ele começou a dar pontapés a tentar arrombar a porta”, contou. Começaram a gritar por socorro à janela.
Um dos vizinho ouviu os apelos e saiu de casa. "Vi três ou quatro pessoas a descer as escadas. Disse umas asneiras para eles se irem embora e fui lá para fora, mais para os afugentar. Um deles apontou-me a arma e foi só isso", contou José Manuel. Antes de entrarem no carro que os esperava, a amiga de Clayton ainda conseguiu ver o rosto de um dos ladrões.
"Apontou a arma para cima e disse: cala a boca!"
“Lembro-me dele”, disse Stella, apontando para o arguido Fábio. “Estava gritar por socorro. Ele saiu do prédio, apontou a arma para cima e disse: cala a boca”, recordou. Questionada sobre se tinha a certeza, hesitou um pouco. “Parece-se muito como ele. Os outros [arguidos] não”, respondeu. Já sobre a companheira de casa de Clayton, disse que a tentaram estrangular e ficou "aterrorizada" e "muito machucada, mordida na mão e ferida no rosto".
A sessão da manhã foi ainda marcada por várias testemunhas que atestaram o bom caráter de Ricardo Turé, ex-treinador de futebol de escalões jovens do Leixões Sport Clube e do Boavista Futebol Clube. O arguido, que assumiu a quase totalidade dos factos e está atualmente em prisão domiciliária na casa da família de um amigo, estudou enquanto esteve no Estabelecimento Prisional de Custóias e foi sempre bom trabalhador.
“Era a pessoa que apaziguava e controlava os ânimos”, lembrou um dirigente do Boavista- Também um dirigente do Leixões que com ele trabalhou atestou o seu bom caráter: “É uma pessoa impecável. Tinha sempre uma palavra de conforto para os jovens”, assegurou.
Carla Ferreira, que aceitou acolher Ricardo em sua casa, explicou que conhece o arguido há 16 ou 17 anos, quando este começou a jogar futebol com o filho dela. "Sempre o identifiquei como meu filho adotivo. Fazia parte da nossa casa. Não tenho dúvidas que está arrependido", assegurou.