A psicóloga que acompanhou Lucas Miranda nas duas semanas em que este esteve institucionalizado no Centro Tabor, em Palmela, garantiu ontem ao Tribunal de Setúbal que não foi informada de nenhum pedido daquele adolescente de 15 anos para morrer.
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Em sessão anterior do julgamento, os dois jovens acusados de terem matado Lucas Miranda a seu pedido, em outubro de 2020, em Palmela, relataram que tinham avisado a psicóloga, Sónia Banza, daquele pedido insistente, mas nem ela nem nenhum outro responsável do centro Tabor deu importância ao assunto, afirmaram.
Leandro Vultos e Ricardo Cochicho, hoje com 18 anos, respondem por homicídio. O primeiro é acusado de ter asfixiado o colega com um golpe de "mata-leão" e o segundo de cumplicidade, por ter ajudado a enforcar Lucas, já sem vida, numa árvore, para simular um suicídio.
O plano, segundo a acusação, foi delineado entre os três. No dia seguinte ao crime, como o corpo estava no chão, os arguidos esconderam-no num poço. Seria encontrado cinco meses depois, em fevereiro de 2021.
A psicóloga da instituição descreveu ontem Lucas como "um jovem com problemas de ansiedade, infeliz no centro, sempre em fuga e perdido no projeto de vida". Mas negou que estivesse deprimido.
Ainda assim, disse ter ouvido, uma única vez, que Lucas tinha falado em matar-se. Foi numa ocasião em que ele tentava recuperar o seu telemóvel, que lhe fora apreendido. "Disse que queimava o centro e que se matava a seguir, mas foi uma situação de confronto, porque queria fugir novamente".
Já a informação de que Lucas pedira a colegas para o matarem só chegou ao seu conhecimento cinco meses depois do crime: "Um jovem contou-me numa consulta que o Lucas tinha pedido ao Ricardo e ao Leandro para o matarem".
A namorada de Lucas também testemunhou ontem. Disse que ele tinha problemas em casa, mas que nunca falou em suicidar-se. "Namorámos até pouco antes de ir para o centro Tabor, mas ele era alegre, tinha projetos de vida e gostava de futebol". A jovem, de 16 anos, relatou ainda que Lucas lhe pediu ajuda, pois ia viver na rua, porque a mãe não lhe abria a porta de casa, acrescentou.
Arguido colaborou com a PJ
Ouvida ainda ontem pelo tribunal, a inspetora da PJ de Setúbal que liderou a investigação ao homicídio de Lucas Miranda contou em Tribunal que o arguido Ricardo Cochinho colaborou de forma espontânea com a investigação. "Na primeira operação de buscas no centro Tabor, dirigiu-se a nós de forma espontânea e informal e levou-nos ao sítio onde julgava ter enterrado parte da corda que foi encontrada no pescoço da vítima. Não pareceu esconder nada", disse.