Dezasseis pessoas foram constituídas arguidas por 183 burlas que lesaram vítimas em 213 mil euros em menos de um ano.
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Cinco reclusos de Vale de Judeus fintaram a interdição de telemóveis nas cadeias e dedicaram o tempo das suas penas a burlar cidadãos em liberdade, que se deixaram convencer a instalar nos seus dispositivos eletrónicos a aplicação MB Way e, sem consciência disso, concederam acesso às próprias contas bancárias.
Esta quarta-feira, o Ministério Público e a PSP interromperam a atividade dos cinco reclusos, com uma operação em Vale de Judeus, seguida de outra, já ontem, em que foram constituídos arguidos mais 11 burlões, que recorriam ao mesmo "modus operandi" com a MB Way, a partir dos concelhos de Avis, Almeirim, Monforte, Fronteira, Elvas, Campo Maior e Setúbal.
Os 16 arguidos, que constituirão sete grupos autónomos, terão sido responsáveis por pelo menos 185 ocorrências criminais registadas desde finais de 2019, que lesaram as vítimas em 213 mil euros. Mas a PSP acrescenta que o mesmo tipo de ilícitos com a MB Way "tem vindo a assumir valores muito relevantes", dando conta de que, desde o início de 2019, recebeu cerca de 3200 denúncias, em que as vítimas se queixaram ter perdido um total de 2,4 milhões de euros.
O comissário da PSP Carlos Lourenço, um dos responsáveis da investigação, explica que o problema não está exatamente na MB Way, uma aplicação da SIBS que considera ser "extremamente segura", mas no facto de os burlões terem escolhido como alvos pessoas que não usavam a aplicação nem estavam familiarizadas com o uso de ferramentas digitais na gestão de contas bancárias.
Vendedores enganados
Da prisão ou em liberdade, os burlões contactaram telefonicamente pessoas que anunciavam a venda de artigos na Internet ou eram prestadoras de serviços. Manifestando interesse, por exemplo, em comprar-lhes determinada peça de mobiliário, ou em reservar a sala de um restaurante para uma festa de aniversário, informavam que pretendiam pagar através da MB Way. E se as vítimas não usavam a aplicação, tentavam convencê-las a instalá-la num dispositivo eletrónico e, de forma ardilosa, "levavam-nas a facultar o acesso às contas bancárias", sintetiza Carlos Lourenço ao JN. Noutra variante, acrescenta o comissário, os suspeitos "faziam-se passar por angariadores de clientes de MB Way".
Já com acesso às contas das vítimas, os burlões usavam os seus próprios telemóveis para movimentar os respetivos saldos, até as deixar a zero. De três formas possíveis com a MB Way: levantamentos no Multibanco; pagamentos de compras; e transferências para outras contas.
Nas 56 buscas realizadas esta semana, foram apreendidos aos suspeitos dezenas de telemóveis, alguns dos quais usados para praticar as burlas, e outros bens que terão sido adquiridos com o produto dos crimes.