Telemóveis entram clandestinamente na cadeia de Paços de Ferreira através de viaturas oficiais, consolas de jogos e cestos de chouriços e queijos.
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Escondidos no interior de plasmas ou de consolas de jogos, disfarçados em cestos cheios de chouriços e queijos, colocados em embrulhos de roupa que são atirados para os pátios e ocultados nas viaturas oficiais com acesso privilegiado a espaços restritos. Estas são algumas das formas de entrada dos telemóveis nas cadeias portuguesas.
Os mesmos locais onde os reclusos estão proibidos de usar qualquer meio de comunicação com o exterior, mas onde, em 2018, foram apreendidos 1934 telemóveis. O número é inferior ao registado em 2017 (2228) e em 2016 (2094) e não reflete, garante o presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SCGP), Jorge Alves, a dimensão do problema. "Devido à falta de segurança nas cadeias para a qual temos alertado não fico surpreendido com estas apreensões. Conhecemos a realidade e isto só acontece porque alguém o permite", defende o sindicalista.
Buscas nas prisões
Já a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) releva "o facto da percentagem de espaços de alojamento abrangidos nas buscas ter subido, ainda que ligeiramente, entre o ano de 2017 e o de 2018, não obstante o número de greves efetuado pelo corpo da guarda prisional no decurso de 2018 e de este ter sido também o ano de implementação do novo horário de trabalho".
A DGRSP assegura ainda que todos os 48 estabelecimentos prisionais foram alvo de buscas às celas.
Mesmo assim, os telemóveis continuam a entrar nas cadeias e ainda este mês um destes aparelhos foi encontrado entre queijos e enchidos que um familiar de um presidiário levou para a visita semanal.
Acoplados a viaturas
Noutras situações, só o raio-X a que são submetidos todos os aparelhos eletrónicos que entram nas cadeias permitiu descobrir seis telemóveis escondidos no interior de um plasma que teria como destino uma cela. O mesmo já aconteceu com consolas de jogos, especialmente com as PlayStation, que dispõem de um pequeno compartimento usado como esconderijo.
Nos últimos meses, têm sido encontrados, quer nos pátios quer nos telhados das prisões, telemóveis embrulhados em peças de roupa arremessadas do exterior dos estabelecimentos prisionais para serem recolhidos posteriormente pelos presos.
Os casos mais engenhosos recorreram, porém, a viaturas com acesso ao interior da cadeia. Como as carrinhas celulares usadas para transportar os presos ao tribunal e onde já foram detetados telemóveis acoplados ao chassis e que seriam retirados logo que estas ficassem estacionadas no pátio da prisão.
Também foram encontrados telemóveis presos ao para-choques de uma viatura utilizada por um guarda prisional para recolher, diariamente, o correio direcionado ao estabelecimento prisional.
Tal como acontece nas carrinhas celulares, os aparelhos seriam recolhidos pelos reclusos quando a viatura estivesse na parada da cadeia, local frequentado por diversos presos.
Especulação
Telemóveis de 50 euros custam 300 no mercado negro das prisões
Pelo segundo dia consecutivo foi tornado público um vídeo efetuado, com um telemóvel, por um recluso da cadeia de Paços de Ferreira. É o terceiro caso em três semanas. O vídeo ontem conhecido é da autoria do mesmo preso que fez um direto nas redes sociais no passado dia 4 e, tal como nas primeiras imagens, vê-se os presidiários a partilhar um cigarro com, aparentemente, droga. Um dos reclusos também surge na festa de aniversário que, no passado dia 10, foi transmitida em direto pelo Facebook a partir das celas. Segundo o JN apurou junto de fontes ligadas ao sistema prisional, um telemóvel que custa, em qualquer loja, entre 50 e 60 euros é vendido no mercado negro das cadeias por valores superiores a 300 euros. E os reclusos ficam ainda obrigados a pagar valores elevados para carregar os cartões que permitem fazer chamadas e que são controlados por quem vende os aparelhos. Ao JN, Vítor Ilharco, da Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso, admite que os telemóveis chegam aos presos "de todas as maneiras, nomeadamente pelos guardas, funcionários e pelas visitas". "Já houve condenações de todos", justifica.