Vítima foi baleada após festa na Quinta do Mocho, em Sacavém. Acerto de contas entre grupos rivais da Grande Lisboa pode estar na origem do homicídio. A Polícia Judiciária investiga.
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"Jboogz", um jovem cantor de hip-hop, de 24 anos e natural de Odivelas, morreu na madrugada de domingo, após ter sido baleado, no bairro da Quinta do Mocho, em Sacavém. Tudo indica que o músico foi vítima de uma luta sangrenta entre gangues dos subúrbios de Lisboa, que glorificam a violência através de uma vertente do rap chamada "drill". A Polícia Judiciária investiga a possibilidade de esta morte estar relacionada com o homicídio de um homem de 25 anos, abandonado inconsciente à porta do Hospital de Loures, em maio.
Segundo informações recolhidas pelo JN, a Quinta do Mocho foi, na noite de sábado, palco de uma festa, a "White Party", com vários DJ. Tudo correu bem até cerca das 6 horas, quando foram ouvidos tiros. Os bombeiros de Sacavém foram chamados para socorrer uma vítima com ferimentos de arma de fogo.
Na Rua Pero Escobar, junto ao lote 19, os socorristas encontraram o homem prostrado no chão, em paragem cardiorrespiratória. Tinha levado um tiro no peito.
Foram feitas manobras de reanimação pelos bombeiros com auxílio da equipa da viatura médica de emergência e reanimação do Hospital de Loures, e a vítima foi transportada para o Hospital de São José, em Lisboa. À entrada do hospital, o homem acabaria por falecer.
A PSP reforçou o contingente no local do crime, temendo mais distúrbios. O caso transitou para a PJ de Lisboa, que tenta identificar e localizar o homicida e desvendar as causas do crime.
Apesar de a vítima não ter documentos, acabou por ser identificada horas depois. Trata-se do cantor Jboogz, residente em Odivelas e membro do grupo PMM 96 Gangue, que já lançou várias músicas no mercado, todas elas com letras a glorificar a violência.
Ainda segundo apurámos, Jboogz terá gozado com a morte de um membro de um grupo rival, os Xroots, num vídeo que foi publicado nas redes sociais, poucos dias após o homicídio do jovem abandonado à porta do Hospital de Loures, em maio.
Esta vítima, de ascendência africana, também tinha levado um tiro no peito e perdera muito sangue. Foi deixada por amigos, sem documentação, numa zona reservada a ambulâncias. Quem estava junto da Urgência hospitalar ficou perplexo quando uma viatura entrou no local e os seus ocupantes retiraram a vítima e deitaram-na no chão. Depois, voltaram a entrar no carro e fugiram, sem dar tempo de reação ao polícia que ali faz serviço gratificado. A vítima foi então posta numa maca e conduzida para o bloco, mas não resistiu ao ferimento.
O jovem era membro do PMM, um grupo que pratica "drill". Tem vídeos produzidos e publicados em várias plataformas da Internet. Em todos, Jboogz, que canta num inglês bem pronunciado, esconde a cara, quer com máscaras quer com capacetes. Numa das produções dos PMM, aparentemente filmada na capital da Guiné-Bissau, Jboogz surge com uma pistola metralhadora e um maço de notas.
Fenómeno
Autoridades atentas aos gangues
A escalada da violência entre grupos de bairros sensíveis dos arredores de Lisboa levou as autoridades a criar uma equipa especial de prevenção da criminalidade. Muitos deles alimentam as rivalidades com a produção e divulgação de música na Internet, sendo o hip-hop usado também para propagar ameaças, através de letras de conteúdos explícitos e da exibição de armas. No género musical "drill", gabam-se de assaltos, mostram produto dos roubos e louvam a violência e a marginalidade como modo de vida.
Outros casos
Amante de hip-hop
Isaac Oliveira, conhecido pela alcunha de "Manilson", de 16 anos, foi baleado em fevereiro, por um grupo de indivíduos, na via pública em Camarate, Loures. O jovem amante de música rap não resistiu aos ferimentos e faleceu no Hospital Santa Maria em Lisboa.
Morto no metro
Em outubro do ano passado, um jovem, de 19 anos, foi assassinado na estação de metro das Laranjeiras, em Lisboa. Terá sido esfaqueado, numa guerra de gangues juvenis, por quatro homens, oriundos de bairros sensíveis dos subúrbios de Lisboa, que já foram detidos pela PJ.