Um recluso que beneficiou de uma saída precária tentou regressar à cadeia de Paços de Ferreira com quatro telemóveis e 130 comprimidos escondidos no ânus. O caso foi detetado na última quarta-feira e não se tratou de um episódio isolado.
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Há duas semanas, outro preso usou o mesmo método para introduzir telemóveis e droga no mesmo estabelecimento prisional. Segundo fontes prisionais, reclusos com direito a saídas temporárias estão a ser ameaçados por grupos organizados para transportarem produtos proibidos sempre que voltem do exterior.
Com cerca de 50 anos e preso desde 2010 por roubo, o preso já beneficiou de várias saídas precárias, a última das quais na passada semana. Regressou à cadeia de Paços de Ferreira na quarta-feira e, como exigem as normas, foi sujeito a uma revista de segurança.
Durante o procedimento, os guardas prisionais suspeitaram que o preso escondia algo e confrontaram-no. Este negou que escondesse produtos proibidos, mas foi levado ao Hospital Padre Américo, em Penafiel, onde um raio-x revelou que tinha quatro telemóveis, pouco maiores que um dedo, e dois sacos com 130 comprimidos no ânus. Os comprimidos ainda serão submetidos a análise, porém suspeita-se que se trate de anabolizantes usados para apressar o crescimento muscular.
“Mais uma vez, o profissionalismo dos guardas prisionais de Paços de Ferreira impediu que fossem introduzidos produtos ilícitos no estabelecimento prisional. Mesmo com um número de efetivos reduzido, os guardas prisionais dão mostras que são excelentes profissionais”, afirma o presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, Frederico Morais.
Ameaças e coação no interior das prisões
O episódio de quarta-feira não foi isolado. Há duas semanas, sucedeu um caso semelhante, em que um recluso, também de regresso a Paços de Ferreira, foi apanhado com três telemóveis e pedras de crack igualmente escondidos no ânus.
Dessa vez, foi o pórtico de deteção de metais que deu sinal. No entanto, os produtos proibidos só seriam descobertos no interior da bagagem do preso, que, aproveitando um momento de menor atenção dos guardas, evacuou rapidamente os telemóveis e a droga, meteu-os numa saca plástica e tentou dissimulá-los na mala.
Ao JN, fontes prisionais revelam que muitos presos com direito a saídas precárias estão a ser ameaçados para esconderem telemóveis, droga e anabolizantes no regresso à cadeia. A coação é feita por grupos organizados que controlam o tráfico no interior das cadeias e visa, principalmente, presos toxicodependentes, que têm dívidas acumuladas ou que não dispõem de qualquer proteção.
Esta forma de fazer chegar produtos ilegais às prisões intensificou-se a partir do momento em que, na sequência da operação Entre Grades, apertaram as regras para evitar o suborno de guardas prisionais, que aceitavam desempenhar papel semelhante.