Queixa-crime por violência em quartel originou inquérito, que foi arquivado e reaberto. Em agosto, subchefe dos Sapadores também terá sido agredido por voluntário da corporação.
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Luís Guerreiro, de 42 anos, acusa três elementos dos Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique (BVCO), em Lisboa, de o terem agredido a “soco e pontapé e atirado contra uma parede e para o chão, mais do que uma vez”, no dia 5 de novembro de 2023. As agressões terão ocorrido depois de aquele ter sido expulso da recruta, por questionar ordens, e foram objeto de uma queixa-crime, que está sob investigação do Ministério Público (MP). Um dos bombeiros denunciados desmente a acusação.
Um relatório do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental confirma que Luís Guerreiro deu ali entrada com o nariz fraturado. A vítima conta que, além disso, ficou com os lábios inchados, dores no maxilar e escoriações.
Após a notícia, em agosto, da violenta agressão de um voluntário de Campo de Ourique a um subchefe dos Sapadores de Lisboa, o queixoso decidiu contar o seu caso ao JN, recordando que sempre sentiu “atitudes hostis, severas e desapropriadas” de chefes e de formadores dos BVCO.
Nem vinho nem casa de banho
Um dos episódios recordados passou-se durante a “ordem unida”, em que pediu para ir à casa de banho, ao fim de 45 minutos de treino. “O instrutor disse: ‘Nem que vos passe um c. pela frente se podem mexer’”, recorda. “E ainda me respondeu: ‘Só falas quando eu deixar’. Nesse momento, virei costas, apesar de me terem dito para não o fazer.” “Mesmo havendo uma hierarquia, isto são comportamentos fascistas”, avalia Luís Guerreiro.
No outro dia, quando estavam a almoçar, o recruta foi buscar um copo de vinho ao bar, o que gerou novo atrito, por não poder consumir álcool, o que desconheceria. Um dos formadores tentou empurrá-lo para fora do quartel, e o comandante-interino acabou por expulsá-lo da recruta. “Pedi o livro de reclamações e ele respondeu: ‘Não há’.”
“No dia seguinte, disseram para ir lá entregar o fardamento. Como havia um clima de animosidade, pedi à PSP para me acompanhar, mas disseram que não tinham carros, e que ia correr tudo bem”, lembra, garantindo: “Começaram a agredir-me logo no átrio, a soco e pontapé”. Um quarto bombeiro terá assistido.
O recruta fugiu e foi levado para o hospital, onde lhe diagnosticaram a fratura no nariz. No dia seguinte, foi à Esquadra da PSP de Campo de Ourique fazer uma denúncia. Quis identificar os agressores, mas disseram-lhe que só teria de o fazer ao MP (ler ficha), recorda. Ficou, por isso, surpreendido quando foi informado de que a “queixa contra desconhecidos” fora arquivada. Inconformado, recorreu a uma advogada oficiosa, tendo o processo sido reaberto. Em junho, foi ouvido por uma magistrada do MP.
Aguarda agora que os três bombeiros denunciados sejam interrogados. O JN tentou ouvir os dois que se mantêm nos BVCO, bem como o comandante Mário Teixeira, mas só um deles, Fábio Castro, aceitou falar. “Nem eu nem ninguém cometeu agressão nenhuma”, assevera, recordando que Guerreiro “não acatava uma ordem”. “Estava sempre a contrapor o que o instrutor dizia”, afirma. Quando ao episódio na “ordem unida”, explica que ninguém pode sair da formatura: “Regras são regras”.
PSP sem identidades
A PSP de Lisboa reportou a queixa ao Ministério Público, mas garante que, “dos elementos recolhidos junto da vítima, não foi possível proceder à identificação de quaisquer suspeitos”.
Queixa de Sapadores
O Regimento de Sapadores de Lisboa participou criminalmente da alegada agressão de que foi vítima um subchefe da companhia, em agosto, por parte de um voluntário de Campo de Ourique. Os Sapadores falam de um “clima de permanente confronto e desrespeito das estruturas voluntárias, que decorre há meses, colocando em risco a prestação do socorro na cidade”.