Era a maior rede de furto e recetação de catalisadores em Portugal. Em dois anos e meio, furtaram mais de 7400 catalisadores na Grande Lisboa e venderam-nos a uma empresa de gestão de resíduos situada no Seixal, por perto de 1,7 milhões de euros. São 18 arguidos, metade deles está em prisão preventiva, que irão ser julgados no Tribunal de Loures, por crimes de furto, roubo, recetação, burla e posse de arma proibida.
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De acordo com a acusação do Ministério Público (MP) de Loures, o núcleo duro de operacionais era composto por cinco homens, a maioria vendedores ambulantes residentes em Lisboa. Organizaram-se de forma profissional, na zona da capital, e em média roubavam uma dezena daquelas peças por dia, enquanto o esquema durou, de julho de 2020 a maio de 2022, mês em que uma grande operação da PSP pôs um travão à onda de furtos que se verificava na altura.
Os assaltantes eram meticulosos e não poupavam na compra de ferramentas para executar os roubos em tempo recorde. Um deles chegou a adquirir uma potente rebarbadora com bateria por 650 euros.
"Os arguidos observavam os veículos e escolhiam aqueles que se apresentassem economicamente mais vantajosos, valoração esta dependente da marca e modelo do veículo, bem como da origem da peça (catalisador), a saber, se o veículo possuía ou não o catalisador de origem proveniente da marca", garante a acusação.
Cada elemento tinha uma função, alternada e complementar dos demais. Atuavam em equipas de dois, no mínimo, "de forma a assegurar que, pelo menos, quando chegados ao local em que os veículos selecionados se encontravam parqueados, um assumia a função de vigia, enquanto o outro, socorrendo-se ou não de macaco hidráulico, se deitava por baixo do veículo e com recurso a uma rebarbadora a bateria cortava e retirava o catalisador acoplado na parte inferior da viatura", explica ainda o MP.
No entanto, como ao fim de alguns meses vários elementos do núcleo duro foram apanhados em flagrante delito pelas autoridades, o grupo adaptou-se. Passou a recrutar toxicodependentes para os assaltos, fornecendo-lhes transporte e ferramentas e pagando-lhes entre 20 e 50 euros por cada catalisador que trouxessem.
Depois, vendiam as peças ao principal recetador, então gerente da empresa Catrefining, na margem sul do Tejo, onde tinha um armazém, por valores que podiam chegar aos 500 euros por unidade. Este arguido, de origem búlgara e que está em prisão preventiva desde maio, é alvo de um pedido de perda alargada de vantagem criminosa, por parte do MP, de perto de 1,9 milhões de euros, os ganhos que terá obtido com o esquema.
Cada tonelada de "miolo" de catalisadores rendia 1,5 quilos de platina, 1,2 quilos de paládio e 250 gramas de ródio, o que correspondia, sensivelmente, a 215 mil euros de lucro.
Exportavam metais extraídos
O principal recetador é suspeito de proceder à separação do "miolo" da carcaça do catalisador para o triturar e enviar posteriormente para empresas de vários países, entre eles Inglaterra, Alemanha e Coreia do Sul, a fim de efetuarem a extração dos metais valiosos.
Usavam nome de familiares
Na maioria dos casos, os arguidos vendiam os catalisadores aos recetadores usando nomes de terceiros para evitar serem identificados em caso de fiscalização das autoridades. Um dos principais arguidos usou o nome do pai, que acabou por ser arrastado para o processo e também vai ser julgado.