Rui Pinto, de 30 anos, é suspeito de ter perpetrado ataques a uma dezena de clubes da "La Liga", a primeira divisão do futebol em Espanha.
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O alegado pirata informático que chegou a Portugal na quinta-feira para responder num inquérito envolvendo o fundo de investimento ligado ao futebol Doyen Sports, está a ser alvo de uma investigação semelhante em Espanha.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, as autoridades espanholas receberam várias queixas de clubes daquele país por alegados acessos indevidos. Um pirata tinha conseguido furar os sistemas de segurança informáticos dos clubes e sacado dezenas de milhares de e-mails. Ao que apurámos, o Real Madrid e outros dos principais clubes da La Liga estão entre os clubes vítimas de ataques.
Foram as semelhanças dos ataques ocorridos em Portugal, nomeadamente à Doyen e ao Sporting, que levaram o Ministério Público espanhol a solicitar informações à investigação que decorria em Portugal e que culminou com a detenção de Rui Pinto na Hungria.
Uma vez que os vetores de ataque informático eram os mesmos e os servidores usados estavam alojados nos mesmos países, as autoridades do país vizinhos começaram a interessar-se pelo suspeito então identificado pela PJ portuguesa.
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Para os espanhóis, Rui Pinto, que já admitiu publicamente ser o "whistleblower" (denunciante público de crimes) por trás do Football Leaks, passou a ser o único suspeito dos ataques informáticos contra os clubes. Foi então formalmente pedida a cooperação das autoridades portuguesas na investigação espanhola.
Com a detenção de Rui Pinto em Budapeste (Hungria), ao abrigo de um mandado de detenção europeu, as autoridades espanholas devem agora enviar para Portugal cartas rogatórias para ouvir Rui Pinto sobres os casos de roubo de e-mails de clubes da La Liga.
Inquérito sobre Benfica
O gaiense vai hoje ser ouvido pelo Tribunal Central de Instrução Criminal sobre seis crimes. Dois de violação de segredo de justiça, um de ofensa a pessoa coletiva, um de tentativa de extorsão e dois de acesso indevido, todos envolvendo a Doyen. O mandado de detenção europeu apenas referia estes crimes.
Em Portugal, Rui Pinto também é suspeito de ser o pirata que roubou os e-mails do Benfica. As autoridades nacionais pediram o alargamento do âmbito do mandado de detenção.
Quando foi detido, os advogados de Rui Pinto invocaram o chamado "princípio da especialidade", o que, em princípio, impede as autoridades lusas de o interrogarem sobre outros crimes, além do caso Doyen. Porém, a intenção do Ministério Público português é vir a interrogá-lo também sobre os desvio de e-mails do Benfica e outras instituições alvo de ataques.
Amante de história e de arqueologia
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Natural de Gaia, 30 anos, Rui Pinto é um autodidata em informática. Licenciado em História e apaixonado por arqueologia, já reconheceu ter sido ele quem divulgou, através do Football Leaks, segredos contratuais do F. C. Porto, Sporting e outros clubes europeus. Assume-se como um "whistleblower" - ou seja, um denunciante de crimes. Antes, foi implicado num caso de desvio de cerca de 300 mil euros de contas de um banco nas Ilhas Caimão, que terá conseguido a partir de um simples computador. Depois, foi descoberto e devolveu parte do dinheiro.
VIAGEM PARA PORTUGAL
Avião da TAP
Rui Pinto foi entregue, ontem cerca das 16 horas, às autoridades portuguesas no avião da TAP, no aeroporto de Budapeste, na Hungria.
Advogado
A viagem, acompanhada por elementos da PJ, assim como pelo advogado de Rui Pinto, Francisco Teixeira da Mota, decorreu sem percalços. O avião chegou pelas 19 horas ao Aeroporto de Lisboa, onde o esperavam outros inspetores.
Interrogatório
Rui Pinto foi conduzido para as instalações da PJ, onde passou a noite. O primeiro interrogatório começa hoje de manhã.
Pedido de libertação
Fernando Madureira, líder da claque Super Dragões, lançou ontem uma petição solicitando a libertação de Rui Pinto.