No lote de instituições, gabinetes de advogados, clubes de futebol e personalidades que investigou, Rui Pinto, criador do "Football Leaks" agora libertado, também vasculhou os e-mails de uma misteriosa holding financeira com sede na zona franca da Madeira.
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É a Sable SGPS Lda., detida por uma família venezuelana de origem portuguesa, através de uma encruzilhada de empresas offshore, com o provável intuito de salvaguardar uma nacionalização selvagem dos seus bens e sociedades por parte do Governo da Venezuela.
Rui Pinto está ainda a ser investigado por intrusões nas caixas de e-mail de outras entidades, figuras públicas e empresas. Ainda assim, cinco inquéritos-crime já foram suspensos provisoriamente, incluindo dois casos de invasão dos sistemas informáticos da Presidência do Conselho de Ministros e do Ministério da Justiça.
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De acordo com um despacho do Ministério Público para extração de certidões para inquéritos autónomos, a análise ao material informático de Rui Pinto permitiu apurar acessos indevidos aos sistemas informáticos de várias estruturas do Estado, à IURD, ao Atlético de Madrid, Shakhtar, Real Madrid, Benfica, F. C. Porto, além de muitos outros clubes de futebol.
O pirata também terá "espiado" inúmeras empresas controladas pela empresária angolana Isabel dos Santos, assim como a chinesa Fosun que, além da EDP, também é dona de participações num clube de futebol inglês, e ainda advogados e jornalistas. No lote dos alvos de Rui Pinto existe a Sable, a única que não tem ligações ao futebol português ou europeu, o Estado português ou a empresária angolana Isabel dos Santos.
Money Island
A Sable, uma holding de gestão de participações sociais, foi criada em 2010, com cinco mil euros de capital social divididos em duas quotas iguais entre duas offshores, sediadas nas ilhas Seicheles: Carlton Internacional Limited e Mayfair Managemente Limited. Na altura, o primeiro gerente escolhido foi um indivíduo chamado Roberto Luiz Homem, que foi citado numa investigação jornalística internacional denominada "Money Island".
Segundo o "Le Monde" e "La Vanguardia", Roberto Luiz Homem terá gerido mais de 320 empresas, na última década. Segundo a investigação publicada em fevereiro de 2017, e que poderá ter tido o contributo de Rui Pinto, a ilha da Madeira era usada por grandes fortunas estrangeiras para escapar ao pagamento de impostos nos seus países. Entre estes empresários, a "Money Island" referia Isabel dos Santos, apanhada por Rui Pinto no "Luanda Leaks".
advogados e gerentes
Apenas dois anos depois da sua criação, a Sable foi alvo de um aumento de capital milionário de mais de 5,4 milhões de euros, injetados por seis empresas com sede na Venezuela.
Desde 2012 até hoje, a Sable trocou múltiplas vezes de gerente - muitos deles advogados - e de revisores oficiais de contas. A última alteração na gerência foi registada em março passado. Agora, a gestão é liderada por um indivíduo com morada em Caracas, Venezuela, sem registo em Portugal.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, a Sable é controlada por uma família venezuelana de origem portuguesa, proprietária de uma cadeia de supermercados que poderia vir a ser nacionalizada por aquele Estado sul-americano, dada a instabilidade social naquele país.
Como os acordos internacionais entre Portugal e a Venezuela preveem que os bens de uma empresa estrangeira naquele país não podem ser nacionalizados sem uma compensação a definir entre os dois estados, a família terá passado todos os bens da cadeia de supermercados para a Sable, sediada em Portugal, através de offshores, salvaguardando assim os bens de uma possível nacionalização sem indemnização.
Fisco espanhol
O Fisco espanhol investigou as ligações de futebolistas da La Liga que recebiam prémios e direitos de imagem através de empresas da Zona Franca da Madeira. De acordo com a "Money Island", Xabi Alonso, do Real Madrid, e Javier Mascherano, do Barcelona, terão recebido milhões de euros.
Sem resposta
O JN tentou contactar diversos gerentes e contabilistas da Sable, mas não obteve resposta.
Investigado
Pela intrusão no sistema informático da Sable, Rui Pinto também será investigado. No material apreendido aquando da sua detenção, em Budapeste (Hungria), o pirata tinha correspondência da holding madeirense.