Aníbal Pinto garante que ideia partiu do ex-cliente e diz ter "a certeza" de que este não lhe contou tudo. Hacker manteve-se em silêncio.
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Aníbal Pinto, antigo advogado de Rui Pinto e arguido no processo Football Leaks, garantiu na terça-feira em tribunal, que o seu ex-cliente queria receber pagamentos da Doyen através de uma offshore. O advogado negou ter tentado extorquir o fundo de investimento - garantiu que apenas negociou um contrato de prestação de serviços -, mas disse ter "a certeza" de que Rui Pinto não lhe contou tudo o que sabia. O hacker esteve na segunda sessão do julgamento e não reagiu ao que disse o coarguido.
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Aníbal Pinto disse ao coletivo de juízes que foi Rui Pinto quem teve a ideia de receber o dinheiro - 25 mil euros/ano, durante cinco anos, para ajudar a Doyen a evitar ataques informáticos - através de uma offshore. À saída do Tribunal Central Criminal de Lisboa, acrescentou que essa decisão foi "uma opção de um cliente" e que "não estava mandatado" para o aconselhar. Sobre o facto de ter representado Rui Pinto perante a Doyen enquanto este mantinha o anonimato, afirmou: "Os advogados não têm de achar normal ou anormal, têm de achar legal ou ilegal".
Para o advogado, uma vez que a Doyen tinha sido hackeada, "fazia todo o sentido" que contratasse um perito em informática. Considerou normal que a empresa quisesse recrutar Rui Pinto porque, embora não o conhecesse, sabia das suas "capacidades", e garantiu que o hacker daria a cara "quando fosse fazer o contrato". Sobre o facto de ser a Doyen a pagar-lhe os honorários de advogado, invocou a liberdade contratual.
"Clientes usam os advogados"
Aníbal Pinto exasperou-se algumas vezes com a extensão das perguntas colocadas, chegando a ser advertido pela juíza presidente, Margarida Alves. Assegurou que "não sabia nem tinha como saber" que era Rui Pinto quem publicava os documentos da Doyen e que os obtivera de forma ilegal. "Eu não entro no princípio do filme, entro no prolongamento", disse.
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À saída do tribunal, questionado sobre se pensa que Rui Pinto o usou, Aníbal Pinto respondeu que "os clientes usam sempre os advogados". No entanto, afirmou ter "a certeza" de que o hacker não lhe contou tudo o que sabia. Para tentar extorquir a Doyen? "Não sei o que queria. A mim, disse que queria ser contratado" pela empresa.
Aníbal Pinto reuniu com Nélio Lucas, CEO da Doyen, e com Pedro Henriques, advogado da empresa, em outubro de 2015, em Oeiras. A conversa foi vigiada pela Polícia Judiciária, algo que Aníbal Pinto vê como "armadilha" do colega de profissão. "Fui absolutamente leal com o dr. Pedro Henriques e, se ele tivesse sido leal comigo, eu hoje não estava aqui".
Rui Pinto esteve presente na sessão, embora sem falar. Foi o último a entrar na sala e sentou-se na ponta direita, longe de Aníbal. De máscara, sapatilhas, camisa cinzenta e munido de uma garrafa de água com gás, manteve-se impassível e foi tirando apontamentos num caderno. Hoje, há nova sessão, desta vez com declarações dos assistentes.