Os piratas responsáveis por 101 fraudes a donos de contas bancárias, através do furto de dados, vão escapar à Justiça, depois de as autoridades brasileiras terem desistido de os localizar naquele país, onde todos operaram.
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Do grupo de suspeitos, inicialmente com 35 elementos, apenas 18 foram agora acusados pelo Ministério Público de Braga. Três são os mentores do esquema e 15 foram usados para a circulação do dinheiro sacado aos clientes dos bancos.
O esquema funcionou entre 2013 e 2014, a partir de Braga. A acusação diz que tudo foi congeminado por três dos arguidos, Nuno Silva, Alexandrino Dias e Luís Correia, todos de Braga, os quais, segundo o Ministério Público, angariaram as "mulas" de dinheiro. Conseguiram sacar 123 mil euros de dezenas de contas bancárias, a maioria do Montepio Geral, mas também do antigo Banif - Banco Internacional do Funchal.
Foi também o trio bracarense, que não tinha, à época, qualquer atividade profissional, quem teve a ideia de se juntar aos piratas brasileiros. Eram estes que, a partir do Brasil, realizavam todas as operações de furtos de dados (phishing). Enviavam e-mails a clientes dos referidos bancos, com páginas semelhantes às dos mesmos, e contendo um vírus informático. As vítimas pensavam tratar-se de uma atualização pedida pela entidade e forneciam dados de acesso, credenciais, telefones e códigos de matriz de segurança do "homebanking". Ou seja, os nomes de utilizador e as palavras-passe.
"hackers" identificados
Na posse destes dados, os brasileiros transferiam dinheiro das contas dos lesados para as das "mulas" e estas enviavam-no para os três alegados cérebros, que o levantavam, nomeadamente em multibancos. No Brasil ficava uma parte das verbas, transferida a partir de uma casa de câmbios de Braga. As autoridades portuguesas enviaram para as suas congéneres brasileiras as identificações disponíveis dos piratas, mas nenhum deles foi identificado ou localizado.
Casos houve de utilização de contas bancárias de pessoas que nada tinham a ver com a fraude e que, incrédulas, viam entrar e sair dinheiro, movimentado pelos criminosos. De início, a investigação da Polícia Judiciária de Braga calculava que a fraude teria atingido, pelo menos, 300 mil euros. A acusação concluiu, ainda, que, nalguns casos, houve intrusão no próprio sistema informático dos dois bancos.
O primeiro furto remonta a agosto de 2013, data em que os "hackers" acederam à conta à ordem de um cliente, através do serviço de "Internet banking" designado Net 24, do Montepio, transferindo 1994 euros para a conta de um dos principais arguidos. Os furtos variaram entre 250 e 2900 euros. Alguns lesados ainda detetaram a fraude e conseguiram que o Montepio anulasse a transferência. Se o cliente não desse pela fraude era atacado várias vezes. Um deles ficou sem dez mil euros. O processo tem 52 testemunhas.
Advogados pedem instrução
Os três alegados mentores estão acusados de crimes de associação criminosa, falsidade informática, burla informática qualificada e branqueamento. Os restantes 15, as "mulas", respondem por associação criminosa e branqueamento. Ao JN, os advogados João Ferreira Araújo e Licínio Ramalho, que defendem três acusados, adiantaram que devem pedir a instrução do caso.
Milhares entram e saem de conta
Um cliente queixou-se de que numa sua conta bancária, onde não tinha dinheiro, tinham sido depositados, por desconhecidos, 15 100 euros. Logo a seguir foram levantados 800 euros num multibanco e efetuado um pagamentos de 14 300 numa loja. O dinheiro fora roubado de quatro contas bancárias. O caso foi arquivado.