A embaixadora da Ucrânia em Portugal ficou "horrorizada" com o homicídio do cidadão ucraniano, ocorrido a 10 de março às mãos de três inspetores do SEF no aeroporto de Lisboa, e diz que a instituição "escondeu o facto", comunicando à Embaixada uma causa da morte que não correspondia à realidade apurada pela autópsia médico-legal e investigação da Judiciária. À Embaixada, chegou a versão de que morte deveu-se a uma "crise de epilepsia".
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"O pior é que a verdadeira causa da morte foi escondida, uma vez que, a 12 de março, o SEF notificou a Embaixada apenas sobre a ocorrência do óbito, sem indicação das circunstâncias que o provocaram. Apenas no dia seguinte, por via telefónica, foi obtida a informação de que tinha morrido devido a problemas epiléticos", lamentou, em declarações ao JN, a embaixadora Inna Ohnivets.
Após ter tomado conhecimento, pela Comunicação Social, de que o cidadão ucraniano "morrera no aeroporto não por causas naturais, mas sim assassinado", a Embaixada "reagiu imediatamente, enviando uma nota verbal ao Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, bem como cartas à Polícia Judiciária e à Procuradoria-Geral da República, solicitando a investigação do caso".
"O homicídio é um caso flagrante de violação dos direitos humanos e que chocou os ucranianos e os portugueses", afirma a diplomata, sublinhando esperar que as autoridades realizem investigação imparcial e justa do caso e que haja uma "punição adequada".
Relações amigáveis
Inna Ohnivets garante que o caso não estragou as boas relações existentes entre a Ucrânia e Portugal e diz que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, lhe telefonou expressando condolências à família e assegurando que serão feitos todos os esforços para esclarecer o que se passou. Tal facto demonstra, mais uma vez, que as relações são "amigáveis".
Conforme o JN noticiou, a 10 de março, o ucraniano aterrou no aeroporto de Lisboa com visto de turismo. Ao passar na alfândega, a entrada foi travada por inspetores do SEF, que suspeitaram de irregularidades. Ficou decidido que seria colocado no próximo voo para a Turquia, país de onde viera. Ficou a aguardar pelo avião, mas sentiu-se mal e foi transportado sob escolta para um hospital.
Depois de ter recebido cuidados médicos, voltou ao aeroporto e foi para enfermaria do Centro de Instalação Temporária. Foi aí que a vítima, após provocar distúrbios, foi agredida até à morte por três elementos do SEF, com um bastão extensível. No dia 12, foi encontrado sem vida por outros inspetores, atado de mãos e pés, numa posição em que não podia respirar.
A autópsia revelou sinais de violência na morte, pelo que o caso transitou para a PJ. Os três inspetores estão em prisão domiciliária. O cadáver aguarda repatriamento e o mesmo sucede com vários turistas ucranianos ainda retidos em Portugal.
Pormenores
Legislação tolerante
Para evidenciar que as relações se mantêm, apesar de tudo, amigáveis, a diplomata Inna Ohnivets elogia o facto de Portugal ter "legislação muito tolerante na esfera da migração".
Bastão extensível
O turista ucraniano terá sido espancado com recurso a um bastão extensível, por parte de três inspetores do SEF. A entrada em Portugal foi recusada, tendo o cidadão simulado, alegadamente, um ataque epilético.
Diretores demitidos
Na sequência do homicídio, o diretor e o subdiretor de fronteiras no aeroporto de Lisboa foram demitidos.