Dez jovens futebolistas ficaram em Lisboa e iriam acabar a trabalhar nas obras em Sines ou em França. SEF deteve treinador.
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Dez jovens senegaleses pagaram entre seis e dez mil euros pela oportunidade de realizar testes num clube de futebol alemão e cumprir o sonho de se tornarem futebolistas. Porém, iriam acabar a trabalhar nas obras ou na agricultura, em Sines ou em França, se não tivessem sido abandonados em Lisboa.
O esquema criminoso foi descoberto no passado sábado por inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que detiveram o falso treinador, também oriundo do Senegal, por auxílio à imigração ilegal e uso de documento falsificado, horas depois do grupo ter aterrado em Lisboa.
Ainda no Senegal, o homem, de 31 anos, convenceu os aspirantes a futebolistas de que os levaria a prestar provas no Nuremberga, clube da segunda divisão alemã, e as famílias dos dez jovens, todos entre os 18 e os 19 anos, endividaram-se junto de agiotas para angariar a avultada quantia exigida para os transportar até à Europa.
Já com o dinheiro na sua posse, o falso treinador falsificou os vistos de longa duração, alegadamente emitidos pelas autoridades alemãs, e os contratos de trabalho que justificariam a ligação das vítimas ao Nuremberga. Também comprou os bilhetes de avião que permitiram aos jovens apanhar o voo que fez a travessia entre a capital senegalesa, Dakar, e Lisboa.
SEF seguiu suspeito
O SEF deu poucas explicações sobre o caso num comunicado emitido ontem, mas o JN apurou que os rapazes chegaram ao Aeroporto Humberto Delgado vestidos com camisolas iguais e estampadas com um emblema de um clube senegalês que não existe. Em seguida, apresentaram os documentos falsos no controlo alfandegário e afirmaram aos inspetores do SEF que tinham testes marcados no Nuremberga, mas iriam viajar para Paris, em França.
As incongruências da história, associadas a evidências de que os vistos e contratos de trabalhos eram falsos fizeram com que os jovens fossem retidos logo ali.
O SEF não adotou a mesma estratégia com o falso treinador. Preferiu deixá-lo sair do aeroporto para o seguir e descobrir se este iria encontrar-se com outro elemento da rede dedicada ao auxílio de imigração ilegal. Ao longo de cerca de duas horas, os movimentos do senegalês foram controlados e quando este se preparava para apanhar um transporte público para Sines os inspetores concretizaram a detenção.
Levado a tribunal, o falso treinador foi indiciado por dez crimes de auxílio à imigração ilegal e uso de documento falsificado e ficou em prisão preventiva. A investigação acredita que o detido iria obrigar as vítimas a trabalhar em obras ou na agricultura em Sines ou em França, cobrando-lhes parte do salário que recebessem.
Vítimas acolhidas por compatriotas
Os dez aspirantes a futebolistas foram levados à presença do juiz e saíram do tribunal apenas com termo de identidade e residência. Posteriormente, foram acolhidos pela comunidade senegalesa a residir em Lisboa e é junto dela que permanecerão até prestarem depoimento para memória futura, no âmbito deste processo. Depois, como aconteceu em casos semelhantes, todos deverão pedir asilo, o que lhes permitirá manter-se em Portugal por tempo indeterminado ou transitar para outro país europeu.
Sem registo
Não há registo da passagem do falso treinador por Portugal. A investigação suspeita, no entanto, que não seria a primeira vez que este estava na Europa, uma vez que conhecia o modo de funcionamento dos transportes públicos e distinguia polícias de seguranças.
Fugiu do aeroporto
Quando chegou ao Aeroporto de Lisboa, o suspeito separou-se do grupo para não ser associado aos jovens. E abandonou, sem malas, o local logo que os rapazes foram retidos.
Falsificação
Os vistos e contratos de trabalho falsificados apresentavam alguma qualidade.