O tribunal de São João Novo, no Porto, condenou, nesta manhã de quarta-feira, Alexandra B., de 43 anos, a sete anos de prisão pela prática de dezenas de burlas.
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Dois dos cúmplices, seus ex-namorados, foram condenados a quatro anos e dez meses e quatro anos de prisão, ambas suspensas na sua execução, desde que se mantenham afastados do consumo de estupefacientes. Outro cúmplice foi condenado a dois anos e seis meses de prisão, efetivos, e um outro, que tinha cedido os dados confidenciais, a oito meses de pena suspensa. Os familiares da principal arguida - irmã, pai, mãe e prima - foram absolvidos.
Para o tribunal, os crimes imputados aos arguidos consistiram apenas numa unidade, porque foram praticados sem interrupção, pelo mesmo método e de natureza económica, assim entendeu que apenas se praticou um crime e não as dezenas de que vinham acusados.
O coletivo de juízes entendeu absolver a irmã, a prima e a mãe de Alexandra, tal como era pretendido pelo procurador do Ministério Público. A própria arguida tinha afirmado que os seus familiares não tinham participado em qualquer crime e que ela é que os tinha enganado e se aproveitado deles. Também o pai de Alexandra foi absolvido, porque a acusação apenas lhe imputava um facto, que não ficou suficientemente provado.
Acusados de centenas de crimes
Os nove arguidos estavam acusados de centenas de crimes de burla, acesso ilegítimo, falsidade e dano informático, contrafação de cartão, furto, violação de correspondência e branqueamento. Segundo a acusação do Ministério Público, ao longo de quatro anos, terão lucrado cerca de 188 mil euros à conta de dezenas de vítimas.
Tudo começou quando um dos arguidos obteve informações de clientes de operadoras de telecomunicações. Graças a esses dados, Alexandra conseguiu montar um esquema para roubar as identidades das vítimas. Com as informações obtidas ilicitamente, verificava, através de fontes abertas, quem da base de dados era cliente de cartões WiZink, Universo e Unibanco.
Depois, contactava as operadoras e requeria, através da linha de apoio ou pessoalmente, segundas vias de cartões SIM. Na posse dos cartões, ligava para os bancos e pedia credencias para aceder às aplicações de "homebanking" e às contas bancárias das vítimas. Com controlo das contas alheias, efetuava compras, pagamentos e transferências.
A dada altura terá também começado a utilizar outro método. Ligava às vítimas e usava os dados pessoais que tinha obtido para as convencer de que era funcionária do banco. Depois, solicitava-lhes os códigos para poder controlar as suas contas.
"Nunca cometi um crime sem estar drogada"
Em tribunal, Alexandra assumiu as burlas eletrónicas, mas assegurou que nunca furtou cartões físicos. "Os crimes foram cometidos numa época em que fazia consumos de droga extremamente elevados. Nunca cometi um crime sem estar drogada porque tinha pânico. Drogada, o medo desaparecia, o perigo desaparecia", confessou a alegada cabecilha do esquema.
A arguida contou que chegou a auferir mais de 3 mil euros mensais com a venda de equipamento estético. Com o consumo de droga, deixou de trabalhar e ficou sem dinheiro. A arguido disse ainda que a irmã, a prima e os pais, todos arguidos, nunca tinham feito parte do esquema e que os tinha enganado e se aproveitado deles. Segundo Alexandra, os seus únicos cúmplices foram dois ex-namorados e um terceiro homem que lhe arranjou a base de dados inicial.
Mesmo em prisão domiciliária continuou com as burlas
Pouco depois do início do esquema, a PJ do Porto começou a receber as primeiras queixas. A investigação chegou até Alexandra que foi detida em março de 2021. Sujeita ao primeiro interrogatório, ficou proibida de se ausentar da cidade do Porto e de contactar os outros suspeitos e as testemunhas, além de ter de prestar uma caução de seis mil euros.
Porém, em liberdade, continuou com as burlas. Voltou a ser detida em dezembro de 2023. Desta vez, ficou em prisão domiciliária com pulseira eletrónica, mas voltou a não cumprir as medidas de coação e reincidiu nas burlas. Face ao reiterado incumprimento, em abril de 2024 Alexandra foi levada para a cadeia, onde permanece em prisão preventiva.
Segundo a acusação, foram identificados 87 ofendidos, incluindo duas operadoras de telecomunicações e quatro entidades bancárias, que, ao longo de quatro anos, foram lesados em mais de 188 mil euros.
À "mentora e principal autora" dos crimes são imputados 56 crimes de burla qualificada, 57 crimes de acesso ilegítimo, falsidade informática e dano relativo a programas ou outros dados informáticos, dois crimes de contrafação de cartão, quatro de recetação e furto qualificado, seis crimes de falsificação, um crime de violação de correspondência, branqueamento e aquisição de cartões ou outros dispositivos de pagamento obtidos mediante crime informático.