Sexagenária agredida perde os sentidos em rua tomada por família em Mira de Aire
Uma sexagenária perdeu os sentidos, esta semana, depois de ser agredida, na Rua das Flores, em Mira de Aire, por membros de uma família que ali reside e que, devido a sistemáticas ameaças e agressões verbais aos transeuntes, fez da artéria do centro da vila um lugar a evitar pela população local.
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"Isto está insustentável", protesta o presidente da Junta de Freguesia de Mira de Aire, Alcides de Oliveira, ele próprio já aconselhado, por uma questão de segurança, a não passar sozinho na Rua das Flores, perto da igreja de Mira de Aire, no concelho de Porto de Mós.
Dina Carvalho, de 66 anos, já tinha tido outras más experiências na Rua das Flores. Mas como lá mantém uma casa que herdou dos falecidos pais, na quarta-feira arriscou uma visita, porque, de vez em quando, o carteiro ainda ali deixa correspondência. E chocou-se com o lixo que encontrou na rua e pegou no telemóvel para o fotografar. Há coisa de um ano, em reunião com membros da Junta, da Câmara de Porto de Mós e da GNR, para discutir os problemas da rua, os moradores tinham sido aconselhados a fotografar o que ali vissem de mal.
A sexagenária não chegou a fotografar o "monte de lixo". "Apareceu um fulano e tirou-me o telemóvel e começou a filmar-me com o dele. A seguir, vem a mulher dele e chama-me tudo, 'p***, vaca, isto é tudo nosso!'", relata. Aquela mulher também lhe deu um valente "sopapo" nas costas que a deixou atordoada, mas o pior estava para vir, quando um rapaz de uns 16 anos, filho do casal, a deixou "estendida no chão". "Deu-me um murro na face e caí". Quando Dina recuperou os sentidos, fugiu.
GNR sem meios
Eram cerca de 9 horas da manhã. Dina Carvalho ligou à GNR de Mira de Aire. "Não podemos ir aí, não temos elementos. Só se vier uma patrulha de Porto de Mós ou da Batalha", ter-lhe-ão respondido. A mulher haveria de ir à Guarda formalizar queixa. Também foi a um médico particular, que lhe diagnosticou um hematoma na face e uma escoriação num cotovelo, e à Medicina Legal.
Fonte da GNR confirma a queixa da mulher e os problemas de segurança por ela relatados, que o presidente da Junta de Mira de Aire também corrobora. Alcides de Oliveira observa, porém, que a culpa não é só de elementos de "quatro ou cinco agregados familiares" de etnia cigana, sem ocupação profissional conhecida, que ocupam várias casas. "Também há outros. Isto está insustentável, porque vêm de outras zonas para aqui", diz.
Alcides de Oliveira conta que tem recebido, "consecutivamente, queixas de pessoas dando conta de insatisfação por serem agredidas verbalmente ao passar na rua".
Numa ocasião, Dina Carvalho também foi agredida apenas verbalmente. Foi quando se dirigiu à Rua das Flores com duas agentes imobiliárias, decidida a vender a sua casa. Um objetivo falhado, segundo conta, porque os insultos contra si e aquelas profissionais foi de tal ordem que fugiram todas, sem que o imóvel chegasse a ser avaliado.
Uma pesada herança
O problema de insegurança e também de ruído na Rua das Flores começou há meia dúzia de anos, segundo os relatos auscultados pelo JN, quando um proprietário de várias casas deixou instalar-se numa delas uma família. O senhorio faleceu e foram ocupados vários imóveis, havendo mesmo registo de puxadas ilegais de eletricidade e água, sem consequências legais.
O presidente da Junta de Mira de Aire, Alcides de Oliveira, não sabe dizer se aqueles residentes têm contratos de arrendamento, mas acredita que tudo se resolveria se os herdeiros do referido senhorio, residentes em Lisboa, não se alheassem do problema e desencadeassem ações judiciais de despejo dos inquilinos.
"A Junta de Freguesia, por si só, não tem meios nem competências para uma ação de despejo", lamenta Alcides de Oliveira, sem solução para o problema, que já foi discutido em reuniões com o Ministério Público e com o Comando Territorial da GNR de Leiria.
3700 habitantes
A vila de Mira de Aire, do concelho de Porto de Mós, distrito de Leiria tem 3700 habitantes. O presidente da Junta de Freguesia, Alcides de Oliveira, contabiliza, entre os habitantes, cerca de 200 imigrantes.