Vítimas aliciadas por anúncios eram discretamente despojadas das chaves dos veículos, depois de se despirem para serviço sexual, no Porto.
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O plano era simples: roubar as chaves dos clientes de uma prostituta enquanto estes estavam distraídos pelo serviço sexual. Depois furtavam os veículos estacionados perto do prostíbulo numa rua do centro histórico do Porto, para fazê-los desaparecer. O casal, ele de 27 anos e ela de 48, acabaram por ser detidos pelas autoridades e foram agora acusados pelo Ministério Público de roubo, furto, burla informática, posse e tráfico de arma, além de condução sem carta. Com o esquema, furtaram cinco carros e alguns serviram para fazer assaltos a outros veículos em Guimarães e S. João da Madeira. Ao todo, entre maio e outubro de 2020, o MP imputa-lhes um lucro de 96 mil euros.
Daniel Dias e Ivete Santos viviam no Bairro do Bom Pastor, no Porto, e usavam o quarto de uma habitação da rua de Belomonte, em Miragaia, para que a mulher atendesse os clientes.
De acordo com a acusação do MP, as vítimas eram atraídas através de um sítio na Internet, dedicados a anúncios de encontros sexuais, o "Rua 69". Aqui, a mulher deixava um contacto de telemóvel para informar os clientes dos preços e local do serviço sexual.
Estacionamento próximo
Quando ligava um cliente, Ivete fornecia a morada da rua de Belomonte e dava indicações para que estacionasse nas imediações, regra geral na Rua Ferreira Borges, próximo da Esquadra da PSP do Infante. Quando o homem aparecia à porta do prédio, Ivete levava-o ao primeiro andar e convidava-o a despir-se atrás de um resguardo, que funcionava como biombo entre a entrada do quarto e a cama. Era naquele sítio que as vítimas deixavam as roupas, com as chaves dos carros nos bolsos.
Enquanto cliente e prostituta se enrolavam nos lençóis, Daniel, que permanecia escondido na casa, ia ao resguardo e, discretamente, sacava as chaves e documentos dos automóveis das vítimas, demasiado distraídas para dar conta do furto. O homem descia depois à rua, onde carregava várias vezes nos comandos eletrónicos das viaturas até identificá-las. Abria-as, ligava o motor e abandonava o local para fazer desaparecer o carro.
Depois de terem satisfeito o apetite sexual, as vítimas vestiam-se, pagavam o serviço a Ivete e despediam-se para regressar junto dos automóveis. Na rua, ficavam em choque com o desaparecimento do carro. Mexiam nos bolsos e davam conta de que também não tinham a chave. Voltavam ao apartamento e questionavam Ivete. A mulher fingia-se alheia ao furto e oferecia-se para procurar a chave no apartamento. A uma das vítimas até se ofereceu para acompanhar o cliente à esquadra para apresentar queixa.
Disparos no dia em que "Pirata" deixa namorada morta
Daniel Dias é acusado de ter, a 24 de setembro de 2020, disparado vários tiros no bairro da Pasteleira Nova, no Porto, no mesmo dia em que, em S. João da Madeira, André "Pirata" (na foto) abandonava a namorada às portas da morte, depois desta ter sido baleada pela PSP, numa tentativa de assalto. Ambos serão amigos e "Pirata", entretanto preso e colocado em preventiva por vários assaltos, terá fornecido ao comparsa um vídeo em que um morador da Pasteleira ameaça Dias por este ter efetuado os disparos, de caçadeira de canos serrados, no interior do bairro. O vídeo foi apreendido no telemóvel da prostituta Ivete Santos.
Pormenores
Prisão preventiva
O casal está em prisão preventiva. Primeiro, foi preso Daniel, em outubro do ano passado. Ivete foi detida já em março deste ano, depois de a investigação ter reunido prova suficiente da sua cumplicidade nos crimes.
Condicional
Daniel Dias estava em liberdade condicional quando cometeu os assaltos. Tinha saído em março de 2019 da cadeia, onde cumpriu pena por roubos.
Quatro cúmplices
No banco dos réus vão sentar-se outros quatro arguidos, suspeitos de terem cometido vários furtos na via pública com o casal.